Fonte: www.teatroplural.blogspot.com |
O Centro Cultural da Caixa Econômica Federal em Fortaleza será inaugurado em breve, ainda em 2012, de acordo com a previsão otimista do setor de cultura do banco. O prédio da antiga Alfândega na Avenida Pessoa Anta, na Praia de Iracema, escolhido para sediar o centro cultural, foi desocupado como agência bancária em 2008. As obras começaram no ano seguinte, para que o edifício tombado pelo patrimônio histórico passasse por reformas nas instalações e a Caixa Cultural fosse inaugurada em 2010 na capital cearense. Mas o que são dois anos de atraso para uma cidade que há tanto espera por obras estruturantes?
Próximo aos galpões do Dragão do Mar e aos futuros tanques do Acquario Ceará, o prédio da Alfândega aguarda com paciência para ser novamente ocupado, dessa vez com uma programação cultural que se promete diversificada. Porém, secos ou molhados, os equipamentos culturais em Fortaleza tendem a se tornar caixas compactas, gavetas fechadas em relação à cidade. Apesar das bem-vindas tentativas de instalação do CUCA Che Guevara na Barra do Ceará e do Centro Cultural Bom Jardim, as atividades artísticas e culturais em geral seguem concentradas no Centro e na Praia de Iracema.
Só construir centros culturais é insuficiente, porque é preciso manter os já existentes, revitalizá-los periodicamente com investimentos para reformas e para fortalecer a programação de maneira continuada. Os gestores públicos precisam desenvolver uma visão ampla e estratégica de política cultural, para além de espaços restritos na cidade reservados para atividades da cultura. Esses espaços precisam ser integrados em percursos dialógicos de corredores culturais, para as pessoas circularem livremente por exposições de arte, bibliotecas, museus, salas de cinema, teatros, parques e praças.
É necessário também que a população seja estimulada a formar um vínculo com os centros culturais da cidade. Principalmente a partir de ações movidas por instituições públicas que patrocinam iniciativas culturais com os impostos da sociedade, como no caso da Caixa Cultura. É justo que os lucros dos bancos estatais sejam revertidos em projetos de responsabilidade social, ambiental e cultural.
As prefeituras devem criar ciclovias e linhas especiais de ônibus que incluam esses pontos de cultura nos itinerários, democratizando a visitação e o acesso às pessoas de todas as faixas etárias e classes sociais. Centro cultural não pode ser um lugar exclusivo para quem tem carro ou anda de táxi. O transporte coletivo deve facilitar o deslocamento das pessoas de vários pontos da cidade até os centros culturais, permitindo que elas possam usufruir da programação de espetáculos, shows e apresentações, para depois voltarem em segurança para casa. Dessa maneira, os cidadãos poderão se apropriar desses espaços culturais e significá-los plenamente nas suas práticas cotidianas.
Esses locais privilegiados da cultura têm de ser compreendidos por um aspecto plural, vistos como pontos turísticos, espaços de convivência, de formação humana, pontos de encontro; lugares onde há ventilação, fluxo de ideias, opções de lazer e de entretenimento para a comunidade. Se não entram no cotidiano dos habitantes de uma cidade, os centros culturais são esvaziados, entram em declínio e perdem muito da sua função social.
Com o Centro Cultural Caixa em Fortaleza sendo instalado em uma antiga alfândega, podemos refletir sobre o simbolismo desse prédio histórico - uma zona de fronteira, um lugar de circulação, de trocas e de contatos. Teremos a oportunidade de abrir não só essa caixa, descarregando os contêineres dos portos e destinando as demandas, mas todas as caixas de Pandora da cultura cearense, para deixar sair inclusive a esperança. Na fé de que transformações profundas são possíveis, para dinamizar a cultura local em benefício dos artistas e do povo.
Marco Leonel Fukuda
Músico e estudante de Jornalismo
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