quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Cursos Projeto Jardim de Gente CCBJ



Cursos gratuitos no Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) com inscrições abertas agora no final de setembro de 2013. Os cursos contemplam atividades de arte e cultura abertos ao público - projeto Jardim de Gente, em áreas como Gastronomia, Música, Moda, Audiovisual, Informática, Artes Visuais e Artesanato.
O curso de Violão Iniciante é um dos cursos livres ofertados neste ciclo e terá 60h/aula, começando no dia 9 de outubro até a semana de 13 de dezembro deste ano. Quartas e sextas, de 9h às 12h, no CCBJ (Rua Três Corações, 400  - Bom Jardim - Fortaleza/CE).  

Mais informações:

www.dragaodomar.org.br
(85) 3245.9036 / 8842-7472 / 9825-2172
 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Paisagens Manauaras

Um dos igarapés, canais formados pelo Rio Negro,
após o conhecido passeio do Encontro das Águas,
que parte diariamente do Porto Flutuante de Manaus.


Manaus se encontra rodeada pela exuberante floresta Amazônica, e banhada pelo Rio Negro, um dos principais afluentes do Rio Amazonas. A capital amazonense apresenta belas paisagens naturais e construções arquitetônicas com influência da Belle Époque francesa, na passagem do século XIX para o século XX, quando foi uma das cidades mais prósperas do Brasil durante o ciclo econômico da borracha. Na cidade manauara percebemos o encontro entre natureza e cultura, toda a biodiversidade de fauna e flora convivendo com a diversidade cultural humana, dos povos que habitam a Amazônia e dela sobrevivem com atividades de extrativismo, como as populações ribeirinhas, as mais de 200 etnias indígenas da Amazônia Continental, os castanheiros e seringueiros.

Andar a pé por Manaus ou de barco no rio Negro é uma experiência antropológica, por entrarmos em contato com outros referenciais de estilos de vida, de hábitos alimentares e de cultura propriamente dita. E no aspecto gastronômico, o paladar também se admira com os pratos distintos da culinária local, a começar por frutas como cupuaçu, umbu, o coco cozido da pupunha, o buriti, o tucumã, o abiu, a graviola, o açaí, o taperebá (cajá no Nordeste); alguns mais conhecidos por serem exportados para outros lugares, enquanto a maioria dessas frutas permanece no coração da selva, ou nas barracas de feiras dessas cidades amazônicas ,para serem descobertas pelos viajantes, e pelos próprios brasileiros. Provamos e aprovamos o tacacá, um caldo indígena feita do caldo amarelo e fermentado da tapioca, o tucupi, (extraído ao se espremer a mandioca no cesto vertical de palha, o tipiti), a goma da mandioca líquida, camarões secos e a folha picante e anestésica do jambu. Os peixes de rio também são um deleite à parte, como a saborosa costela de tambaqui e o filé carnudo do pirarucu.  

A seguir, fotos de paisagens naturais e humanas, desde reservas ecológicas, o mercado local e outros pontos turísticos que demonstram as riquezas da região Norte do Brasil, na perspectiva de uma de suas principais metrópoles.


Mirante da Lagoa do Parque Ecológico do Janauari, uma das lagoas
formadas pelo Rio Negro. Nesse local, é possível vermos
as vitórias-régias e populações de macacos. Os troncos das árvores têm
 marcas d'água e são testemunhas do período anual de cheias do rio.

Seringueira com as cicatrizes do corte para a
extração do látex para a produção de borracha.
Parque Ecológico do Janauari.


Canal ao lado do Mercado Municipal de Manaus, em reforma até outubro
deste ano. Por essa entrada chegam todos os dias carregamentos de peixes
amazônicos saborosos para a população manauara. Mas para frente,
na orla do rio Negro, há o Mercado de Peixe da Panair, companhia
aérea cujos hidroaviões pousavam no início do século XX no rio, quando
a cidade ainda não possuía aeroporto nem pista de pouso.



Feirantes da Feira Moderna de Manaus, que descascam e vendem a polpa
do tucumã, tradicional fruta amazônica que é um dos principais
ingredientes do x-caboquinho, um sanduíche com pão prensado na chapa,
queijo coalho, tucumã e banana, uma delícia do café-da-manhã manauara.
O tucumã tem  um sabor curioso de mexerica desidratada e defumada
e broto de feijão (moyashi), e dessa fruta também se faz sorvete. 
Farinhas para todos os gostos, todas feitas da mandioca, matéria-prima
e alimento fundamental da região Norte. Farinha d'água, puba, uarini,
branca, de tapioca, que variam em texturas, sabores, pedaços crocantes,
e são utilizadas como acompanhamento de pratos de peixes, açaí, entre
outros pratos da culinária regional nortista.




Grãos de guaraná in natura, outra fruta amazônica conhecida
 por suas propriedades energéticas. Segundo a lenda da etnia Sateré-Mawé,
 o guaraná surgiu quando um deus mau e invejoso matou um
dos meninos mais belos e amados de uma tribo.
Tupã, o deus bom, sugeriu que se enterrasse o corpo do jovem,
 retirando-se os olhos. Do  túmulo do menino nasceu uma planta,
 que quando floresce e dá frutos lembra olhos humanos.


Longas vagens de feijão-de-metro e uma grande
variedade de pimentas se destacam nesse box da
Feira Moderna de Manaus.

A banana pacovan (ou banana-da-terra, para
os amazonenses) é uma das atrações da Feira
da Banana, logo atrás da Feira Moderna de Manaus.
Como tudo que vem da Amazônia, impressionam
a fartura e o tamanho dos alimentos.
Ainda verdes, podem ser fritas (banana chips)
ou podem ser utilizadas para doces e compotas.
Ouriço aberto da castanha-do-Brasil,
um fruto da Amazônia antes conhecido
por castanha-do-pará.


Feirante descasca manualmente a castanha-do-Brasil,
para dela guardar a preciosa e nutritiva amêndoa.



Anfiteatro da Praia de Ponta Negra, emoldurada pelo Rio Negro e
pela ponte que liga Manaus ao município de Iranduba-AM.
Palco para shows, festa do Revéillon e grandes eventos
na capital amazonense.

Praia da Ponta Negra, nas margens do rio Negro,
opção de lazer para as famílias, e um banho
refrescante de rio para manauaras e visitantes.
A cidade de Manaus ao fundo, vista a partir da Ponte Rio Negro,
com 3 km de extensão entre as duas margens. 
Um homem pesca com sua rede na beira da rodovia, após
ultrapassarmos a Ponte Rio Negro, na saída de Manaus.


Praia da Lua, com banhistas aproveitando a vida no Rio Negro.
Para chegar até lá, seguimos de ônibus até a Marina do Davi, após
a Praia da Ponta Negra, e vamos de lancha até a Praia da Lua.


Poético entardecer na despedida da Praia da Lua, para
seguirmos navegando no Rio Negro para retornar à
Marina do Davi, para pegar um ônibus para o Centro de Manaus.

Um legítimo peixe-boi amazônico, que podemos
ver ao vivo ao visitar o INPA - Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia. A instituição estuda, cataloga
e cuida dos animais antes de devolvê-los à natureza.

Trilha suspensa do INPA, na área de preservação ambiental,
espaço destinado para pesquisadores, e aberto ao público
 para visitas de escolas, projetos de educação ambiental
e os cidadãos manauaras.



Refúgio de vários tipos de macacos no Zoológico do
CIGS - Centro de Instrução de Guerra na Selva, em Manaus.
Nessa área militar, há vários animais endêmicos da Amazônia
para os turistas conhecerem e apreciarem.

Modelo de Maloca Indígena situada no CCPA - Centro Cultural dos Povos
da Amazônia, na Bola da SUFRAMA, antes da entrada do Distrito
Industrial de Manaus (indústrias que produzem as mercadorias da Zona Franca).
 Nessa maloca, encontram-se artefatos indígenas e a representação do ambiente de moradia
 de uma aldeia, e conhecemos sobre a organização social e política dos
povos indígenas da Amazônia, com os pajés (sacerdotes, conhecedores
da medicina tradicional), os caciques e os tuchauas, chefes políticos das etnias.
Esse tipo de habitação indígena é encontrada no povo Dessana do Alto Solimões,
noroeste do Amazonas, na fronteira do Brasil com o Peru.

Exposição do Bumba-meu-Boi no CCPA, manifestação cultural
típica da região Norte, com influências indígenas e também
do boi maranhense. As toadas amazônicas dessa festa do Boi
são típicas e apresentadas como um carnaval nortista na cidade
de Parintins - AM nos meses de julho e agosto.

Um dos primeiros passeios de um pequeno manauara a bordo
de um barco de passageiros no Rio Solimões, com as suas águas barrentas.


Porto de Careiro da Várzea (AM), município próximo de Manaus,
porém banhado pelo Rio Solimões. Para chegar ao Careiro, pega-se um
ônibus até o CEASA de Manaus, ao final do Distrito Industrial, e
no terminal de passageiros compra-se uma passagem de lancha.
Temos a oportunidade de comer um tradicional peixe com farinha
numa palafita próxima ao porto do Careiro, além de ver na paisagem
o bailado dos botos-cor-de-rosa e dos tucuxis, ambos parentes do golfinho.
Ao fundo, a Arena da Amazônia, estádio de futebol que está sendo
construído em Manaus para ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014.
A arquitetura do estádio foi inspirada na estrutura de um balaio indígena.

Textos e Fotos
Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Teatro Amazonas



O Teatro Amazonas é uma das principais atrações turísticas de Manaus, além de ser um monumento cultural da época de ouro do ciclo da borracha (entre 1890 e 1920). O teatro foi inaugurado em 1896 pelo então governador Eduardo Ribeiro (o primeiro governador negro da história do Brasil, filho de uma ex-escrava), engenheiro que fez o primeiro Plano Diretor Urbanístico da cidade e dá nome a uma das principais avenidas do centro histórico da capital amazonense. Naquela época, Manaus foi uma das cidades mais ricas do país, considerada a "Paris dos Trópicos" pela quantidade de rios navegáveis cortando a cidade. A capital francesa é homenageada numa pintura no teto do teatro, que simboliza as formas da Torre Eiffel vista de baixo. A Belle Époque influenciou a arquitetura e os costumes do povo amazonense, e o teatro representa o auge da prosperidade desse momento do passado, com os lustres italianos feitos de vidros de Murano e  uma famosa cúpula com telhas nas cores da bandeira nacional, sobre a construção de estilo neoclássico. O declínio do ciclo da borracha ocorreu quando os ingleses contrabandearam 50 mil sementes de seringueira para cultivar plantações na Malásia, um caso de biopirataria bem ilustrativo do espírito corsário tradicional das atividades econômicas e políticas dos britânicos.







Concerto da Orquestra de Violões do Amazonas, dirigida pelo Maestro David
Nunes, na abertura do Festival Amazonas de Música.

O teatro luxuoso foi construído no coração da selva amazônica para o entretenimento e os encontros sociais da elite dos barões da borracha, que iam para óperas, concertos e espetáculos teatrais vestindo as melhores roupas da última coleção de moda europeia do período e para demonstrar status. Conta-se que a ostentação era tamanha que os abastados manauaras daquele tempo faziam das cédulas de réis o papel de fumo para charutos; as baronesas não lavavam seus vestidos caríssimos com as águas escuras do Rio Negro, mas enviavam-nas de navio para serem lavadas e engomadas no Velho Mundo. Uma outra curiosidade a respeito do Teatro Amazonas é que nas suas proximidades havia alguns trechos de calçamentos de borracha bem resistente com isolamento acústico, feitos para que as rodas das carruagens passassem e não fizessem barulho no interior do teatro. Com seus 117 anos, o Teatro Amazonas segue como um monumento importante, um patrimônio histórico e cultural da Amazônia, lugar imperdível para quem visita Manaus e aproveita para fazer uma visita guiada e participar da programação do teatro.







Vista da Igreja São Sebastião e do Largo São Sebastião, a partir da varanda
do 2º andar do Theatro Amazonas, na saída do Salão Nobre.

Maquete do Teatro Amazonas feita de lego.

Textos e fotos
Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Manaus, a mãe dos deuses da Amazônia


  

Manaus, a capital do Estado do Amazonas, têm esse nome por conta da tribo dos Manaós que vivia nessa região, e o termo em língua tupi-guarani significa "mãe dos deuses". A padroeira da cidade é Nossa Senhora da Conceição, a mãe manauara e jesuítica, da fé do colonizador português. Poucos sabem que a capital amazonense surgiu em 1669, no século XVII, pois tanto se fala no auge do ciclo da borracha, na passagem entre os séculos XIX e XX, quando Manaus foi uma metrópole efervescente até cair em decadência junto com a produção do látex da seringueira.




Curiosidade é uma boa palavra para quem chega em Manaus, não só a sequência de fatos históricos e os porquês dos nomes das cidades e dos seus principais pontos de interesse. Essas informações que partem dos guias ou de uma pesquisa prévia ajudam o turista/visitante a se apropriar do lugar em que está para conhecê-lo verdadeiramente e experimentar o estilo de vida local. É animador chegar à cidade que emerge no coração da exuberante floresta Amazônica, na nossa avidez por conhecer a cultura nortista, a biodiversidade, os hábitos alimentares únicos com peixes corpulentos e frutas exóticas. 



Encontro das Águas
Por isso que uma das primeiras opções de passeio leva a gente ao Porto de Manaus (1902) para uma lancha que nos leve ao Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões, que formam o poderoso Rio Amazonas, o maior em volume hídrico e extensão do mundo. É válido agendar com antecedência esse passeio com agências de turismo credenciadas e evitar a abordagem feita por pessoas nas passarelas das docas, que dizem na conversa de pier, podem deixar alguém perdido na outra margem do rio. Em setembro de 2013, o pacote custa entre R$140 e R$250, com direito a almoço, vista de uma paisagem privilegiada e outros detalhes que seguiremos contando nesta postagem.





Da zona portuária de Manaus, seguimos de barco e nos deparamos com postos de gasolina flutuantes no leito do Rio Negro, que têm lojas de conveniência e aceitam todos os cartões de crédito. Dos conjuntos de embarcações, aos postos e mercados flutuantes, seguimos viagem na ponta da parte industrial de Manaus, tendo como testemunhas gigantescos navios cargueiros e petroleiros ancorados pacientemente aguardando a vez para seguir navegando. Após uma hora de barco desde o porto, chegamos ao famoso ponto do Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões, que não se misturam por motivos de diferenças de propriedades químicas como temperatura e densidade. Contemplamos brevemente esse cenário, em que a lancha diminui o andamento por conta do "banzeiro" (o balanço que os caudalosos rios causam à embarcação), e é bom momento para fotos dos passageiros. Como bons compadres, o Negro e Solimões fazem um acordo e formam o Rio Amazonas, que nesse trecho inicial pode ter uma distância de 20 km entre as margens. Percebemos nossa insignificância como seres humanos diante da natureza com esses altíssimos números, difíceis de medir e imaginar até nos depararmos com esse fenômeno hidrográfico que é um espetáculo encantador. 



Continuamos o roteiro visitando as comunidades de populações ribeirinhas com as palafitas (casas fixas na terra) e as casas flutuantes (que boiam graças a toras, toneis e outros materiais), e o estilo de vida que acompanha a variação de doze metros na altura da lâmina d'água entre os meses de junho e novembro. Na época da cheia, por exemplo, um campinho de futebol das crianças pode virar um espaço para polo aquático, como comentam graciosamente os guias da região. Sem contar no fato que os meninos e as meninas ribeirinhos da Amazônia convivem com o perigo imediato de piranhas, jacarés e sucuris na porta de casa. Outra coisa curiosa é que todos os barqueiros do Rio Negro se cumprimentam ao passarem pelas embarcações dos colegas, como se desejassem boa viagem ou confirmarem que as condições da "pista" estão fluindo bem.


 





 


Paramos para o almoço no Parque Ecológico do Janauari, onde podemos ver as encantadoras vitórias-régias, além de alguns de nossos primatas, os macacos-de-cheiro (ou soin) e os kairaras, parentes do macaco-prego. Há uma loja de artesanato amazônico e produtos típicos ao lado do Restaurante Flutuante Rainha da Selva (R$25 / por pessoa, com almoço e jantar por agendamento, incluso no pacote do passeio de barco), com um delicioso banquete tropical, que teve no cardápio vatapá de camarão, moqueca e empanado de pirarucu e costelinha de tambaqui. Para acompanhar, sucos de maracujá, cupuaçu e taperebá (cajá), a cinco reais o copo à parte, gelado, refrescante e nutritivo como as frutas do Norte brasileiro. 

Igapós e Igarapés
Após aguardar a digestão do cardume que repousa nos nossos estômagos, o barco retoma o trajeto para os trechos de lagoas, que vão aproximando das matas alagadas, os igapós, e à medida que o espaço se torna mais estreito, o barco passa a navegar os canais igarapés. O amplo rio Negro se transforma em um cenário diferente, apertado, e o sombreamento das árvores mais aproximadas refresca um pouco o calor úmido e o sol forte. O passeio termina com uma parada no terminal hidroviário do Cacau, para uma outra lancha ("jatinho") que os nativos utilizam para retornar ao Porto de Manaus, no Centro. Experimentar o barco como meio de transporte, apreciar a beleza do Encontro das Águas, conhecer o estilo de vida dos ribeirinhos, aproveitar a culinária regional são fatores que fazem esse passeio ser imperdível para quem aporta na capital do Amazonas.







 



Textos e fotos

Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador

Brasília depois de quase uma década


Brasília e eu nos reencontramos após sete anos, como amigos que não se viam há algum tempo, mas que na primeira conversa retomaram o fio da meada exatamente de onde pararam. Foi como se de agosto de 2013 voltasse para dezembro de 2006, época da minha despedida, o fim de uma fase, de um capítulo da vida. Desembarcaram comigo não só as bagagens de mão, mas toda uma sequência de calorosas lembranças da infância e da adolescência ali vividas. Pude fazer a visita à cidade que me viu crescer, lugar de memória afetiva, ainda que fosse por um apertado tempo de dois dias. A oportunidade de novamente pisar no Planalto Central foi uma viagem para participar da oficina de radialistas do projeto "Nas Ondas do Rádio  - a prevenção da violência contra crianças e adolescentes", uma iniciativa do Ministério da Saúde na área de comunicação para a paz e os direitos humanos.
 

Além dos compromissos profissionais desse evento, nos intervalos da programação valeu muito a pena visitar as casas de amigos queridos, andar pelo bairro Sudoeste e pelo Plano Piloto. Conversamos sobre os acontecidos lá atrás, os causos de família naquele momento inéditos, roteiros de viagens e como estavam o estilo e o custo de vida, o trânsito e a violência cada dia piores, os projetos atuais e futuros de cada um de nós. A cidade não era mais a mesma, sem dúvida, ainda que muito se tenha seguido e mantido do planejamento fundador da capital. Seguem as tesourinhas para o retorno nas superquadras, a lógica numérica dos endereços e o preciso traçado dos eixões e eixinhos. Permanece em Brasília o sonho do país em se tornar uma nação desenvolvida, moderna, um país avançado, apesar da constatação de que o Brasil de fato e de direito com todas as contradições e possibilidades começa só e principalmente depois da borda tracejada do Distrito Federal. Isso só me veio mais claramente por ter me mudado para o Nordeste, para o Ceará e ter tido algumas andanças pelo sertão. Inclusive, por curiosidade, fui na carona de dois taxistas cearenses, um de Redenção e outro de São Benedito.





O aeroporto JK está com obras ambiciosas de expansão para a Copa do Mundo, e o Entorno e as cidades-satélites cresceram desordenamente pelo que se pode constatar da vista aérea. As estações de metrô estão completas, ladrilhadas, brilhando; em nada se parecem com os blocos de pouca cor do concreto de alguns anos. Brasília chegou aos cinquenta, como uma charmosa senhora de meia-idade que vê o passado e nele enxerga o acúmulo de experiência. Olho para ela admirado como um dos seus filhos adotados, brasiliense de coração, como tantos brasileiros desde os candangos que construíram a capital e os que lá chegaram em décadas seguintes.




Música
Retornei emocionado ao Clube do Choro de Brasília, lugar que tanto frequentei no começo da adolescência, no início dos anos 2000. Um lugar que me formou como músico e plateia, apreciador da boa música instrumental. A sede nova do Clube do Choro - projetada há alguns anos pelo centenário arquiteto Oscar Niemeyer - mantém a tradição, com mais estrutura de luz e som, ao mesmo tempo que segue com o aconchego e a proximidade do público com os músicos. Na ocasião, assisti à apresentação do bandolinista e compositor Carlos Henrique Machado, com o trabalho "Vale dos Tambores", que pesquisou influências afro-étnicas nas raízes da música brasileira.





Sabores
Para encerrar essa viagem memorável, nada como ir à Pizzaria Dom Bosco. Tradicional estabelecimento fundado em 1960, junto com o surgimento da nova capital, a Dom Bosco só possui até hoje um único e absolutamente bem-sucedido sabor de pizza; poderíamos definir como uma mussarela com molho de tomate que deve com certeza ter algum ingrediente secreto para prender por tanto tempo o paladar de um povo. De dois pedaços fazemos uma espécie de sanduíche, e as dentadas nessa pizza dupla são acompanhadas por suco de caju, de laranja ou chá mate, ou ainda uma mistura livre ao gosto do freguês desses três líquidos, a conhecida "bomba". Claro que todo brasiliense no mínimo se irritaria com aquele chavão que na capital tudo acaba em pizza na política, mas nesse caso é apropriado porque foi para celebrar o reencontro, a memória saborosa por pisar novamente em solo amado, onde germina saudade e floresce esperança.


Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador