terça-feira, 3 de setembro de 2013

Manaus, a mãe dos deuses da Amazônia


  

Manaus, a capital do Estado do Amazonas, têm esse nome por conta da tribo dos Manaós que vivia nessa região, e o termo em língua tupi-guarani significa "mãe dos deuses". A padroeira da cidade é Nossa Senhora da Conceição, a mãe manauara e jesuítica, da fé do colonizador português. Poucos sabem que a capital amazonense surgiu em 1669, no século XVII, pois tanto se fala no auge do ciclo da borracha, na passagem entre os séculos XIX e XX, quando Manaus foi uma metrópole efervescente até cair em decadência junto com a produção do látex da seringueira.




Curiosidade é uma boa palavra para quem chega em Manaus, não só a sequência de fatos históricos e os porquês dos nomes das cidades e dos seus principais pontos de interesse. Essas informações que partem dos guias ou de uma pesquisa prévia ajudam o turista/visitante a se apropriar do lugar em que está para conhecê-lo verdadeiramente e experimentar o estilo de vida local. É animador chegar à cidade que emerge no coração da exuberante floresta Amazônica, na nossa avidez por conhecer a cultura nortista, a biodiversidade, os hábitos alimentares únicos com peixes corpulentos e frutas exóticas. 



Encontro das Águas
Por isso que uma das primeiras opções de passeio leva a gente ao Porto de Manaus (1902) para uma lancha que nos leve ao Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões, que formam o poderoso Rio Amazonas, o maior em volume hídrico e extensão do mundo. É válido agendar com antecedência esse passeio com agências de turismo credenciadas e evitar a abordagem feita por pessoas nas passarelas das docas, que dizem na conversa de pier, podem deixar alguém perdido na outra margem do rio. Em setembro de 2013, o pacote custa entre R$140 e R$250, com direito a almoço, vista de uma paisagem privilegiada e outros detalhes que seguiremos contando nesta postagem.





Da zona portuária de Manaus, seguimos de barco e nos deparamos com postos de gasolina flutuantes no leito do Rio Negro, que têm lojas de conveniência e aceitam todos os cartões de crédito. Dos conjuntos de embarcações, aos postos e mercados flutuantes, seguimos viagem na ponta da parte industrial de Manaus, tendo como testemunhas gigantescos navios cargueiros e petroleiros ancorados pacientemente aguardando a vez para seguir navegando. Após uma hora de barco desde o porto, chegamos ao famoso ponto do Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões, que não se misturam por motivos de diferenças de propriedades químicas como temperatura e densidade. Contemplamos brevemente esse cenário, em que a lancha diminui o andamento por conta do "banzeiro" (o balanço que os caudalosos rios causam à embarcação), e é bom momento para fotos dos passageiros. Como bons compadres, o Negro e Solimões fazem um acordo e formam o Rio Amazonas, que nesse trecho inicial pode ter uma distância de 20 km entre as margens. Percebemos nossa insignificância como seres humanos diante da natureza com esses altíssimos números, difíceis de medir e imaginar até nos depararmos com esse fenômeno hidrográfico que é um espetáculo encantador. 



Continuamos o roteiro visitando as comunidades de populações ribeirinhas com as palafitas (casas fixas na terra) e as casas flutuantes (que boiam graças a toras, toneis e outros materiais), e o estilo de vida que acompanha a variação de doze metros na altura da lâmina d'água entre os meses de junho e novembro. Na época da cheia, por exemplo, um campinho de futebol das crianças pode virar um espaço para polo aquático, como comentam graciosamente os guias da região. Sem contar no fato que os meninos e as meninas ribeirinhos da Amazônia convivem com o perigo imediato de piranhas, jacarés e sucuris na porta de casa. Outra coisa curiosa é que todos os barqueiros do Rio Negro se cumprimentam ao passarem pelas embarcações dos colegas, como se desejassem boa viagem ou confirmarem que as condições da "pista" estão fluindo bem.


 





 


Paramos para o almoço no Parque Ecológico do Janauari, onde podemos ver as encantadoras vitórias-régias, além de alguns de nossos primatas, os macacos-de-cheiro (ou soin) e os kairaras, parentes do macaco-prego. Há uma loja de artesanato amazônico e produtos típicos ao lado do Restaurante Flutuante Rainha da Selva (R$25 / por pessoa, com almoço e jantar por agendamento, incluso no pacote do passeio de barco), com um delicioso banquete tropical, que teve no cardápio vatapá de camarão, moqueca e empanado de pirarucu e costelinha de tambaqui. Para acompanhar, sucos de maracujá, cupuaçu e taperebá (cajá), a cinco reais o copo à parte, gelado, refrescante e nutritivo como as frutas do Norte brasileiro. 

Igapós e Igarapés
Após aguardar a digestão do cardume que repousa nos nossos estômagos, o barco retoma o trajeto para os trechos de lagoas, que vão aproximando das matas alagadas, os igapós, e à medida que o espaço se torna mais estreito, o barco passa a navegar os canais igarapés. O amplo rio Negro se transforma em um cenário diferente, apertado, e o sombreamento das árvores mais aproximadas refresca um pouco o calor úmido e o sol forte. O passeio termina com uma parada no terminal hidroviário do Cacau, para uma outra lancha ("jatinho") que os nativos utilizam para retornar ao Porto de Manaus, no Centro. Experimentar o barco como meio de transporte, apreciar a beleza do Encontro das Águas, conhecer o estilo de vida dos ribeirinhos, aproveitar a culinária regional são fatores que fazem esse passeio ser imperdível para quem aporta na capital do Amazonas.







 



Textos e fotos

Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador

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