Aconteceu na sexta da semana passada, o que, de alguma forma, já era até previsível, a seleção brasileira masculina de futebol foi eliminada da Copa do Mundo da África do Sul. Não só a seleção, com seus vinte e poucos jogadores e comissão técnica, mas quase duzentos milhões de brasileiros que assistiam foram eliminados também da grande festa do esporte que é febre nacional. A Holanda mereceu ganhar, é verdade, com talentosos jogadores como Sneijder e Robben, jogou de maneira competente, equilibrada emocional e taticamente e virou o jogo, apesar de ter começado atrás no marcador, com um gol de Robinho após um belo passe do volante Felipe Melo, que perdeu a cabeça sendo expulso algum tempo depois. O Brasil perdeu para a Holanda, seleção que já o eliminou antes na copa de 1990, mas que também por nós vencida nos embates das copas de 1994 e 1998 (semifinal eletrizante, com o goleiro Taffarel pegando dois pênaltis, eu me lembro bem). Mas, levemos na esportiva, porque "um dia é da caça, o outro do caçador" já dizia um sábio ditado popular, e precisamos nos conformar que não são sempre recheados de vitórias todos os dias da vida.
Quando somos derrotados, é preciso refletir para aprendermos boas lições e tentar não repetir os mesmos erros. E aqui cabem duras críticas ao trabalho que tem sido feito na seleção brasileira de futebol, que muito nos tem desapontado nos últimos anos, em especial, 1998, 2006 e 2010, apesar de uma alegria do pentacampeonato em 2002 intercalada nessas competições citadas.
No futebol, acreditamos que somos o suprassumo, a melhor seleção do planeta, por sermos pentacampeões, mas isso não basta. Assumimos uma arrogância da suposta hegemonia do futebol sul-americano (a Argentina de Diego Maradona nos acompanhou nesse raciocínio, diferente de Uruguai e Paraguai, também vizinhos e "hermanos latinos", mas que jogaram com garra, com sangue no olho e perderam honrosamente este ano), mas as copas de 2006 e 2010 têm tido times europeus como finalistas.
A seleção brasileira podia até ter um time que vinha jogando bem nas eliminatórias, na Copa América, mas que sucumbiu na falta de um projeto mais consistente, contando com um elenco composto quase exclusivamente de estrelas internacionais, escolhidos pelo lobby dos patrocinadores e atuam em times que quase não os liberam para treinar quando são convocados. E um time que não treina, não joga bem, isso é fato. Também não tivemos nesta copa uma equipe coesa, no sentido de jogar coletivamente, contando apenas com os talentos individuais, o que não garante sucesso em empreendimentos humanos realizados em grupo. Temos uma crença falsa, uma ilusão de que sempre que o Brasil joga futebol, não precisa somente jogar bem, precisa dar espetáculo, e isso é terrível, porque condiciona o nosso povo a ter a esperança direcionada a um esporte como o futebol, que é uma "caixinha de surpresas", instável, movediço, mutável como a própria vida.
Terminada a copa para a nossa seleção, começam as campanhas eleitorais da política, e o sonho do hexa fica para a próxima copa, em 2014, que será sediada aqui no Brasil. É preciso acordar para que nos preparemos para a escolha do próximo presidente da República, [que, ao contrário do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), é eleito democraticamente e o seu mandato é periódico], dos próximos governadores, senadores e deputados federais (de fato, é preciso renovar aquela vergonha que é o Congresso Nacional brasileiro). E um banho de realidade é sempre bom de vez em quando, para o Brasil preparar uma seleção mais competitiva para 2014, além de cuidar bem da casa, reformar não só estádios, mas também arrumar as cidades que sediarão os próximos jogos, melhorando o transporte público, a mobilidade urbana, a infraestrutura básica, gerando benefícios que perdurem para os cidadãos depois que a copa terminar e os turistas partirem.
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