sábado, 11 de maio de 2013

Na telona, Somos tão Jovens




"Somos tão jovens", filme de Antônio Carlos da Fontoura (Brasil, 2013, 104 min) estreou na semana passada, no dia 3 de maio, trazendo para a tela do cinema a história da juventude do músico, compositor e poeta Renato Manfredini Júnior (1960-1996), o Renato Russo. O nome artístico foi escolhido por ele em homenagem aos pensadores Bertrand Russell e Jean Jacques Rousseau. Renato Russo é interpretado pelo ator Thiago Mendonça, que também encarnou o cantor Luciano no filme "Dois Filhos de Francisco" (direção de Breno Silveira, 2005). O ator não só se assemelha fisicamente ao artista, em particular nas cenas de trovador solitário tocando a craviola, mas conseguiu cantar com trejeitos e em registros vocais próximos ao do próprio Renato Russo, além da genialidade, da arrogância e do temperamento difícil, traços da personalidade do compositor. "Somos tão jovens" correu um risco próximo de se tornar um musical, mas o roteiro e a montagem encadearam bem a narrativa na sequência das canções, que despertaram o imaginário dos espectadores e convidaram o público a cantarolar na sala de exibição.

Quem assiste ao filme tem uma maior compreensão do contexto musical de Brasília no final dos anos 1970 e no começa da década de 1980, período de efervescência do movimento do rock brasileiro (BRock), com influências do punk inglês e de bandas norte-americanas. É uma viagem no tempo possibilitada pelo cinema para os fãs conhecerem a época em que surgiram bandas como Aborto Elétrico, Paralamas do Sucesso, Plebe Rude, Capital Inicial, e, claro, a Legião Urbana. Um rico e produtivo cenário em que conviveram jovens músicos até então anônimos como Herbert Vianna, os irmãos Fê e Flávio Lemos, Dinho Ouro Preto, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos, que alcançariam posteriormente fama e reconhecimento na história da música nacional.




Os fãs da obra de Renato Russo ficam admirados por ver que precocemente aos vinte anos, o músico já tinha composto pérolas como "Eduardo e Mônica", "Ainda é cedo", "Que País é Esse?" e "Faroeste Caboclo", músicas que influenciaram e ainda influenciam gerações de músicos e ouvintes. Também se entra em contato com a atmosfera do final da ditadura militar, dos conteúdos políticos de contestação em "Veraneio Vascaína" ou de letras que criticam o consumo, o comodismo e a alienação da burguesia como "Fátima", "Geração Coca-Cola", entre outras. Percebemos como Renato escreveu com profundidade e lirismo, fruto de leituras e vivências, direcionando para a juventude daquele tempo uma mensagem de conteúdo crítico da elite, classe da qual ele mesmo pertencia, como filho de funcionários públicos e habitante do Plano Piloto, área nobre da capital federal. São canções que, mesmo feitas há trinta anos, seguem bastante atuais nos dias de hoje.

"Somos tão jovens" é o título inspirado em um dos versos mais célebres da canção "Tempo Perdido", que é utilizada nos créditos iniciais e em versão instrumental ao longo do filme. A melodia tocada em momentos pelo violoncelo e em outras situações pelo piano já sensibiliza quem tem a memória de ter aprendido os primeiros toques no violão com as músicas da Legião Urbana naquelas revistinhas de cifras. Podiam ser músicas simples, com poucos acordes, mas com melodias inesquecíveis, belas letras, canções que a gente podia tocar com os amigos da quadra debaixo do pilotis do prédio, no banco do ônibus para passar o tempo de longas viagens ou ao redor de fogueiras nas noites enluaradas dos acampamentos.

Há instantes em que a fotografia utiliza recursos de película envelhecida, com granulações para gerar uma imagem de época, estética que também está presente no filme chileno "No" de Pablo Larraín, que recentemente esteve em cartaz nos cinemas de arte daqui. Quem cresceu em Brasília se identifica bastante com a trabalho caprichado de direção de arte, de caracterização cênica e os planos abertos de "Somos tão jovens", que mostram cenas no Parque da Cidade, na Praça dos Três Poderes, nas superquadras da Asa Sul, as tesourinhas do Eixão e as margens do Lago Paranoá. É um filme memorialista, afetivo, uma cinebiografia romanceada para quem gosta mesmo de música e tem curiosidade de conhecer o início da trajetória do talentoso músico Renato Russo.

Veja o trailer de "Somos tão jovens" a seguir e, se você for fã de Renato Russo e Legião Urbana, não perca a oportunidade de ver o filme ainda no cinema:



Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador

domingo, 5 de maio de 2013

No rádio a cultura de paz e não-violência


Vista do Rio Capibaribe, a partir da varanda do Recife Plaza Hotel, no Centro.

A cidade do Recife recebeu no último final de semana (de 26 a 28 de abril) a oficina de sensibilização de radialistas para a cultura de paz e a prevenção da violência contra crianças e adolescentes, uma realização do Ministério da Saúde e da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz). Da oficina participaram 70 radialistas de todos os nove Estados da região Nordeste, incluindo uma delegação que veio do Mato Grosso. O encontro teve representantes de rádios públicas, educativas, comerciais, religiosas, rádios-web, comunitárias e rádio-escolas.

Além de palestras sobre a violência estrutural na sociedade, os direitos da infância e da juventude, a comunicação para a paz e os direitos humanos, proferidas por profissionais da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, do Ministério da Saúde, da Fiocruz e da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), os radialistas tiveram um encontro produtivo para ampliar conhecimentos, trocar experiências e fazer produções conjuntas nessa área. A turma foi dividida em equipes para trabalhar a temática em spots, jingles, radiodramas, programetes, aplicando com criatividade a linguagem do rádio nas gravações.

Os radialistas aprenderam que devem orientar a população nos seus programas de rádio sobre as violações de direitos de crianças e adolescentes. Nos casos de violência física e psicológica, abuso sexual e exploração do trabalho infantil, devem ser encaminhadas as notificações nas unidades de atenção básica do Sistema Único de Saúde (SUS), e as denúncias deverão ser direcionadas para os Conselhos Tutelares dos municípios, o Ministério Público, a Defensoria Pública, e gratuitamente pelo telefone Disque 100, resguardando o sigilo da fonte.

Todos os participantes saíram motivados da oficina para serem articuladores em redes para os direitos humanos, multiplicadores nos seus locais de origem dessa metodologia de utilizar o rádio para mobilizar a sociedade para a prevenção da violência e a promoção de uma cultura de paz para crianças e adolescentes, o presente e o futuro do nosso país.


Abertura da oficina na noite de 26 de abril, no Recife Plaza Hotel, com Mara Regia (EBC)

Dra. Rachel Niskier (Fiocruz) profere palestra sobre saúde pública,
 violência estrutural e os direitos da infância e da juventude

Os radialistas entrevistam Gilvani Granjeiro (Ministério da Saúde)
sobre o papel do rádio na garantia de direitos de crianças e adolescentes.


Delegação do Ceará na oficina, com representantes de Fortaleza, Quixadá, Horizonte,
Altaneira e Nova Olinda. Na foto, também estão Gil Costa (PI) e Mariana Simões (RJ)


Vista do passeio de catamarã no Rio Capibaribe, a partir da charmosa
Rua da Aurora, no Centro do Recife. Ao fundo, prédios históricos como o
Palácio Campo das Princesas, o Teatro Santa Isabel e o Palácio da Justiça de Pernambuco.


Texto e fotos:
Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador

sábado, 4 de maio de 2013

Educação no Trânsito pelo rádio


Na disciplina de Produção Publicitária no Rádio do curso de Comunicação Social da UFC (semestre 2012.2), realizamos uma campanha educativa radiofônica, sob a orientação da professora Andrea Pinheiro. A partir do tema guarda-chuva "Boas práticas de convivência", nossa equipe pensou em trabalhar a educação no trânsito, após a elaboração do briefing e de um estudo de como a mídia local pautava esse assunto. Produzimos um jingle e dois spots de rádio para essa campanha, cujo resultado divulgamos agora no blog Cultura Ciliar.

Equipe de produção: Davi Teixeira, Kamilla Medeiros, Klenny Alves e Marco Leonel Fukuda
Colaboração de Marta Aurélia na locução da assinatura das peças radiofônicas.


Spot 1



Spot 2



Jingle


Link relacionado
Radionovela Maré de Mentiras


Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Viagem a Itarema - parte 1



No começo do mês passado, passamos o final de semana em Itarema, cidade no litoral norte do Ceará, a 204 km de distância de Fortaleza. Partimos no sábado, 06/04, às 8h30 da Rodoviária de Fortaleza, e chegamos às 14h30 em Itarema, após uma volta (ou um "arrudeio") que passava por Itapipoca, Amontada, Nascente, Morrinhos, Acaraú, até, finalmente chegarmos em Itarema. Um tour válido por cidades cearenses do litoral oeste. Se o ônibus fosse direto, como foi no retorno, levaria apenas 3 horas. Porém, foi uma oportunidade de conhecer, ainda que pela janela do 'busão', várias cidades do interior, e o sertão agradecido pelas chuvas dos últimos dias.




A cada cidade, uma parada e mais algumas pessoas subiam, até ficarmos amontoados, próximos de Amontada... Como viajar leve, com saudades e esperanças, se tanta gente ficou em pé, no corredor do ônibus?



Nosso objetivo principal da viagem era ir para a festa de formatura da primeira turma do Magistério Indígena Tremembé Superior (MITS), com 36 professores do povo Tremembé graduados pela Universidade Federal do Ceará. Esse assunto já foi tratado em outra postagem aqui no blog Cultura Ciliar. Participamos da festa da comunidade à noite, na Escola José Cabral de Souza, no município da Varjota. Registramos novamente a dança tradicional do torém, em honra à ancestralidade dos Tremembé, que entoam suas canções para valorizar a cultura, a língua e a memória dos "encantados", seus antepassados. O cacique João Venâncio e o pajé Luís Cabôco utilizam o mesmo termo que podemos encontrar nas páginas de Grande Sertão: Veredas, do escritor mineiro João Guimarães Rosa.




No restaurante Recanto do Toca, onde comemos um delicioso prato de posta de cavala fresca com fritas, arroz e salada, não pude deixar de fotografar uma cadela amamentando seus dois filhotes. A sabedoria da natureza é algo comovente para quem tem sensibilidade. 




No dia seguinte, fomos para a Praia de Almofala de Cima, no distrito de Almofala em Itarema, uma boa sugestão para quem procura paz, sossego, e contemplação de uma bela paisagem. No caminho, não pude deixar de registrar uma dupla de pescadores trabalhando, antes de irmos para a Barraca da Gringa.  




A Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Almofala, edificação datada de 1712, soterrada por uma grande duna móvel, foi desenterrada há apenas um século pelas barras das saias das índias Tremembé, como contam os moradores do vilarejo. Desse fantástico patrimônio arquitetônico, histórico e cultural do século XVIII, registramos o momento de dispersão após a bênção final de uma missa.




A segunda parte da viagem mereceu uma postagem à parte, por conta da surpresa da visita ao Projeto Tamar-Ceará, na praia de Almofala, com a participação das tartarugas marinhas e um belo trabalho de conservação e educação ambiental em Itarema. Voltamos para Fortaleza no mesmo domingo, 7 de abril, à noite, alegres pela viagem intensa feita, com tantos registros e experiências interessantes.




Texto e fotos:
Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador
  

Viagem a Itarema - parte 2

Estrada de areia a caminho da praia de Almofala de Cima, em Itarema-CE


Na saída da autopista, uma placa do projeto Tamar.


Entrada dos visitantes do projeto Tamar em Almofala/Itarema-CE.

A costa do Ceará está na rota de migração de 5 das 7 tartarugas marinhas ameaçadas
de extinção no mundo(verde/aruanã, oliva, cabeçuda, de couro e de pente),
por ter muitas algas para elas se alimentarem.


Uma pose para foto de quem rapidamente se torna testemunha
da luta pela sobrevivência e amigo da causa das tartarugas marinhas

Uma tartaruga marinha juvenil no tanque da Projeto Tamar em Almofala;
uma entre muitas que são acolhidas, reabilitadas e devolvidas à natureza.


A surpresa: testemunharíamos na praia a soltura de 38 filhotes
 de tartaruga-de-pente, que nasceram em Icaraí de Amontada-CE.


A equipe de biólogos do projeto Tamar preparou um momento
de educação ambiental  com a comunidade de Almofala para soltar os filhotes de
tartaruga-de-pente, e conscientizar a população sobre as espécies
de tartarugas marinhas ameaçadas de extinção.


Essa brava tartaruguinha recém-nascida, de apenas 5 cm, precisa
sobreviver a vários predadores, ficar à deriva até completar 30 anos, com até 2 m
de comprimento, ser fêmea para então retornar à praia onde nasceu para desovar.



A bióloga Helga solta as tartarugas que, por instinto, já procuram o mar.
Cada ninhada tem entre 100 e 120 ovos, e de cada 1.000 filhotes de tartarugas
marinhas nascidos vivos, apenas 1 ou 2 chegam à idade adulta para se reproduzirem.


Na Praia de Almofala de Cima, em Itarema, presenciamos a emoção
de ver as pequenas tartarugas marinhas lutando pela sobrevivência e
pela liberdade. Ficou com elas nossa torcida para que nadem o
mundo todo e regressem ao Ceará para seguir o caminho da vida.

Links interessantes:
Tamar 
ICMBio


Textos e Fotos:
Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador

Sinal fechado para o planejamento urbano



Poucos andam à tarde nas calçadas da Avenida Engenheiro Santana Júnior. Talvez por isso que o pavimento esteja bem conservado. Os pedestres deveriam estar circulando, mas esperam nas paradas de ônibus, enquanto algumas pessoas caminham desde o anfiteatro do Parque do Cocó vestindo roupas de ginástica. Tão arriscado o trânsito, que muitos ciclistas ocupam as calçadas, quando não se aventuram pedalando próximos ao meio-fio ou à beira do canteiro central. As grades instaladas no perímetro do parque ainda não protegeram o local do estigma de assaltos e arrastões antes frequentes perto dos semáforos e das esquinas. Quem está a pé, montado em dois pneus ou motorizado sob quatro rodas tem de estar bastante atento ao percorrer a área.

O mesmo a respeito da calçada não se aplica ao asfalto: desgastado e remendado pelo fluxo ininterrupto de veículos. A avenida aponta para o lado onde Fortaleza cresce, junto com o apetite da especulação imobiliária. Sonhos de consumo são materializados em arranha-céus, lojas, outdoors, condomínios fechados e concessionárias. É o palco de prometidas obras de mobilidade urbana, como o túnel da Rogaciano Leite, além dos viadutos nos cruzamentos com as avenidas Antônio Sales e Padre Antônio Tomás. Desses últimos, nem um traço ainda, talvez na prancheta do arquiteto. E o primeiro túnel sendo construído levará o cidadão sem rodeios para o estacionamento do Shopping Iguatemi, para direcionar a nova classe média diretamente para o interior do templo de compras.

O que incomoda é a quantidade de placas nos arredores, que sinalizam sem explicar qualitativamente os transtornos gerados no cotidiano da população. O fortalezense nunca tem, por parte das autoridades, o devido esclarecimento sobre desvios das rotas de ônibus, dos sentidos das vias, os impactos sociais e ambientais oriundos dessas intervenções urbanas. De repente, uma rua paralela do bairro muda de direção como a Vilebaldo Aguiar na semana passada, sem audiências ou consultas públicas. E assim temos vivido na encruzilhada solitária de avenidas movimentadas da metrópole, esperando brilhar a luz verde do sinal do planejamento urbanístico.

Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador