quinta-feira, 2 de maio de 2013

Sinal fechado para o planejamento urbano



Poucos andam à tarde nas calçadas da Avenida Engenheiro Santana Júnior. Talvez por isso que o pavimento esteja bem conservado. Os pedestres deveriam estar circulando, mas esperam nas paradas de ônibus, enquanto algumas pessoas caminham desde o anfiteatro do Parque do Cocó vestindo roupas de ginástica. Tão arriscado o trânsito, que muitos ciclistas ocupam as calçadas, quando não se aventuram pedalando próximos ao meio-fio ou à beira do canteiro central. As grades instaladas no perímetro do parque ainda não protegeram o local do estigma de assaltos e arrastões antes frequentes perto dos semáforos e das esquinas. Quem está a pé, montado em dois pneus ou motorizado sob quatro rodas tem de estar bastante atento ao percorrer a área.

O mesmo a respeito da calçada não se aplica ao asfalto: desgastado e remendado pelo fluxo ininterrupto de veículos. A avenida aponta para o lado onde Fortaleza cresce, junto com o apetite da especulação imobiliária. Sonhos de consumo são materializados em arranha-céus, lojas, outdoors, condomínios fechados e concessionárias. É o palco de prometidas obras de mobilidade urbana, como o túnel da Rogaciano Leite, além dos viadutos nos cruzamentos com as avenidas Antônio Sales e Padre Antônio Tomás. Desses últimos, nem um traço ainda, talvez na prancheta do arquiteto. E o primeiro túnel sendo construído levará o cidadão sem rodeios para o estacionamento do Shopping Iguatemi, para direcionar a nova classe média diretamente para o interior do templo de compras.

O que incomoda é a quantidade de placas nos arredores, que sinalizam sem explicar qualitativamente os transtornos gerados no cotidiano da população. O fortalezense nunca tem, por parte das autoridades, o devido esclarecimento sobre desvios das rotas de ônibus, dos sentidos das vias, os impactos sociais e ambientais oriundos dessas intervenções urbanas. De repente, uma rua paralela do bairro muda de direção como a Vilebaldo Aguiar na semana passada, sem audiências ou consultas públicas. E assim temos vivido na encruzilhada solitária de avenidas movimentadas da metrópole, esperando brilhar a luz verde do sinal do planejamento urbanístico.

Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador

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