Poucos andam à tarde nas calçadas da Avenida Engenheiro Santana
Júnior. Talvez por isso que o pavimento esteja bem conservado. Os
pedestres deveriam estar circulando, mas esperam nas paradas de
ônibus, enquanto algumas pessoas caminham desde o anfiteatro do
Parque do Cocó vestindo roupas de ginástica. Tão arriscado o
trânsito, que muitos ciclistas ocupam as calçadas, quando não se
aventuram pedalando próximos ao meio-fio ou à beira do canteiro
central. As grades instaladas no perímetro do parque ainda não
protegeram o local do estigma de assaltos e arrastões antes
frequentes perto dos semáforos e das esquinas. Quem está a pé,
montado em dois pneus ou motorizado sob quatro rodas tem de estar
bastante atento ao percorrer a área.
O mesmo a respeito da calçada não se aplica ao asfalto: desgastado
e remendado pelo fluxo ininterrupto de veículos. A avenida aponta
para o lado onde Fortaleza cresce, junto com o apetite da especulação
imobiliária. Sonhos de consumo são materializados em arranha-céus,
lojas, outdoors, condomínios fechados e concessionárias. É
o palco de prometidas obras de mobilidade urbana, como o túnel da
Rogaciano Leite, além dos viadutos nos cruzamentos com as avenidas
Antônio Sales e Padre Antônio Tomás. Desses últimos, nem um traço
ainda, talvez na prancheta do arquiteto. E o primeiro túnel sendo
construído levará o cidadão sem rodeios para o estacionamento do
Shopping Iguatemi, para direcionar a nova classe média diretamente
para o interior do templo de compras.
O que incomoda é a quantidade de placas nos arredores, que
sinalizam sem explicar qualitativamente os transtornos gerados no
cotidiano da população. O fortalezense nunca tem, por parte das
autoridades, o devido esclarecimento sobre desvios das rotas de
ônibus, dos sentidos das vias, os impactos sociais e ambientais
oriundos dessas intervenções urbanas. De repente, uma rua paralela
do bairro muda de direção como a Vilebaldo Aguiar na semana
passada, sem audiências ou consultas públicas. E assim temos vivido
na encruzilhada solitária de avenidas movimentadas da metrópole,
esperando brilhar a luz verde do sinal do planejamento urbanístico.
Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador
Foto: Tribuna do Ceará
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