quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Apesar do brilho das medalhas nas Olimpíadas de Pequim



As Olimpíadas de Pequim têm sido um acontecimento marcante. O país que está sediando os Jogos Olímpicos este ano, a China, vem se mostrando para o mundo de uma maneira cada vez mais opulenta. A terra de Kublai Khan, Confúcio, Sun Tzu e Mao Tsé-Tung está se dispondo para realizar a maior edição das Olimpíadas da Idade Moderna, quem sabe, a maior dos últimos tempos. Além da cultura tradicional milenar admirada no mundo inteiro, o gigantismo do povo chinês - ou megalomania, dependendo da perspectiva - e o vertiginoso crescimento econômico são fatores impressionantes dos anfitriões das competições. O simbólico das Olimpíadas, claro, extrapola o seu aspecto meramente desportivo e pode ser analisado por diversos outros ângulos, principalmente ao se tratar de um país tão paradoxal como a China.

O mundo está embevecido com o fulgor das Olimpíadas, ofuscado pelo brilho da tocha homérica da Abertura dos Jogos e das medalhas, e a atenção da opinião pública e da mídia internacional está voltada para questões como quadros de medalhas, as etapas dos torneios, o desempenho dos atletas de alto rendimento. O foco para outras questões recorrentes na China foi momentaneamente desviado. Enquanto homens e mulheres de porte atlético - “mens sana, corpore sano”. “Mens sana” em tempos de “doping”? - recebem aplausos de amantes do esporte espalhados pelo globo, há outras questionamentos que precisam ser feitos. A China, que atualmente tem liderado o quadro de medalhas, crescido sua economia quase dez por cento ao ano, é um regime ditatorial que, em pleno século XXI, desrespeita os direitos humanos e mesmo assim tem um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), instituição que declarou esses direitos em vários tratados internacionais.

O socialismo de mercado, que vem sendo implantado desde a década de 80 do século passado, no governo Deng Xiao Ping, resistiu à queda da União Soviética, e tem se adaptado ao capitalismo, gerando um novo modelo econômico e político, com grandes repercussões. Poderíamos chamar de “chinocracia”, já que conciliar as idéias marxistas e as doutrinas do capital à chinesa é algo até então inédito para a humanidade. Ao escolher uma via alternativa, os burocratas da cúpula do Partido Comunista Chinês optaram em abrir um país imenso para os empresários do Ocidente, (mas ainda mantendo o cerco de uma ditadura que completará sessenta anos no ano que vem) que antes era isolado por barreiras culturais e diplomáticas maiores que as Grandes Muralhas. Mão de obra abundante e barata em função da injusta legislação trabalhista do regime chinês, total descaso com os recursos naturais, altos investimentos das multinacionais de países que se dizem defensores da democracia e da liberdade: são apenas alguns dos fatores que envolvem a dialética do crescimento daquela que se prepara para ser a próxima grande potência mundial.

Os atletas chineses, que têm se destacado nessa edição dos Jogos Olímpicos, tem feito uma forte propaganda ideológica do regime. Todavia, a China é um país que paga salários injustos aos trabalhadores e os explora com longas e exaustivas jornadas de trabalho, que não tem livre expressão de pensamento, tampouco liberdade de imprensa ou sequer pluralismo político, mas ousadamente se veste como república popular. O crescimento da China não é sustentável, e o preço que os cidadãos pagam é muito elevado. O mundo precisa refletir mais sobre o sentido real dos aplausos que tem dado ultimamente.


Fortaleza, 2008.


Marco Leonel Fukuda é músico e estudante de Jornalismo.

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Texto escrito há quase três anos para o concurso de redatores do Jornal "A Balança" da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará.

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