Na última terça-feira dia 26 de janeiro, o ator, diretor e dramaturgo cearense Ricardo Guilherme apresentou o solo "Apareceu a Margarida" no palco principal do Theatro José de Alencar (TJA). Ricardo Guilherme comemora, em 2010, 40 de atividades artísticas no Teatro, e, a cada terça-feira de janeiro, apresentou um monólogo, geralmente baseado em textos de Nelson Rodrigues e da sua vivência de pesquisa do Teatro Radical. Foram eles: "Bravíssimo", "Flor de Obsessão", "Ramadança" e "Apareceu a Margarida".
Só na chegada, o público já era surpreendido com uma recepção incomum. Quem olhasse pelo vidro, apesar das portas abertas e do sorriso dos funcionários, via as cortinas fechadas. As portas laterais do palco é que foram indicadas aos convidados, e as cadeiras da plateia estavam ocultas por detrás das cortinas. A caixa cênica do palco estilo italiano do TJA era visto de dentro, em uma nova perspectiva dos bastidores, aproximando o artista do público e vice-versa.
A história de "Apareceu a Margarida" acontece ao longo de uma aula do ensino fundamental, como se quem estivesse na plateia fosse aluno de 5º série. Ricardo Guilherme tinha como personagem a cômica professora Dona Margarida, que representava vários aspectos dos nossos professores dos tempos de colégio, as nossas "tias", que oscilavam de forma bipolar entre o rigor disciplinar exagerado e uma certa bondade, às vezes até hipócrita e dissimulada, daquelas que se consideravam "mães" de seus alunos na tarefa de educá-los no seu "segundo lar", a escola. Dona Margarida retrata as contradições pulsantes dos sistemas escolares, do autoritarismo presente em relações de hierarquia, dos conteúdos pedagogicamente esvaziados e acriticamente depositados nas mentes dos alunos. Todos esses temas sérios e graves são abordados com muito humor por Ricardo Guilherme, ator de dicção perfeita e hábil na interação com o público. Em vários momentos, a plateia chora de tanto rir, de ter novamente acesso às lembranças da infância, de poder dar sonoras gargalhadas após os pitorescos causos que Dona Margarida conta no espetáculo.
Ao longo do ano, de fevereiro a dezembro de 2010, Ricardo Guilherme apresentará "Apareceu a Margarida" na última terça-feira de cada mês no palco principal do TJA. A próxima sessão desse espetáculo, que é apresentado desde a década de 1980, está prevista para o dia 23 de fevereiro.
Em 2010, o Theatro José de Alencar está comemorando o seu Centenário de Inauguração, com sua estrutura metálica que veio de navio da Escócia, com sua imponente arquitetura art nouveau, influência da Belle Époque francesa, que, assim como o Baobá do Passeio Público, desembarcou em terras fortalezenses. O TJA estreou como centro cultural de referência no dia 17 de junho de 1910. Em 1964, foi tombado pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, cuja sede da filial cearense é hoje ao lado da centenária edificação na esquina da rua 24 de maio. Pelo outro lado da Praça José de Alencar, no centro de Fortaleza, na esquina da rua General Sampaio, há um jardim de autoria do paisagista Roberto Burle Marx, também aberto à visitação turística, com um valioso acervo da flora brasileira. O blog Cultura Ciliar está acompanhando a programação desse monumento da cultura nacional e continuará recomendando atividades artístico-culturais acessíveis a todos os leitores internautas.
De fato, 2010 é um ano muito especial para a cultura brasileira, por também ser o centenário de nascimento dos músicos e compositores Adoniran Barbosa (1910-1982) e Noel Rosa (1910-1937) e da escritora Rachel de Queiroz (1910-2003), a primeira mulher a ser eleita para a Academia Brasileira de Letras e autora de "O quinze", um clássico da literatura nacional, escrito quando ela tinha 19 anos.
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