Não é somente pela tela da televisão ou pelas fotografias de capas de jornal que percebemos que Fortaleza está em obras. Basta abrir a janela do quarto, ou as cortinas da sala de estar para notar isso ao redor da vizinhança mesmo. Somos conduzidos a olhar para aquários, centros de eventos, trilhos de metrô, mas não podemos esquecer do conjunto imenso de prédios que parece brotar do chão, do enxame de automóveis que a cada dia entope mais o trânsito e polui o ar. Isso sem contar o agravamento dos ruídos de construção, britadeiras, caminhões, tratores, que maltratam os ouvidos e perturbam o sossego.
Nossa cidade realiza obras às pressas, como se fosse uma noiva ansiosa e atrasada para o próprio casamento, na expectativa de que a "loira desposada do sol" saia do caritó de vez. Fortaleza compete com as outras capitais solteironas para ver quem é que vai ficar ou não para titia ("olha como meu Castelão está mais adiantado que o seu"). E prepara-se a cerimônia para receber convidados ilustres de fora, cartolas do futebol mundial, atletas, amantes do esporte que virão para cá não para conhecer a cidade de fato, mas para filar a boia, saborear os quitutes da festa de recepção. (Haverá uma estação de metrô do aeroporto para o estádio, para que os "hóspedes" nem precisem passar pelos "aposentos dos nativos" para cumprimentar a família da noiva, os cidadãos fortalezenses).
Fortaleza segue como aquela princesa iludida esperando pelo príncipe encantado, encarcerada no alto da torre de marfim. Sonha em se tornar uma cidade desenvolvida, mas a mentalidade dos governantes não permite que isso aconteça. O povo não tem acesso a uma educação crítica e de qualidade, e fica sem opção, ainda que se apresentem dez candidatos para assumir a prefeitura, e uma penca de vereadores que legislam para aumentar o próprio salário.
Não se questiona se essas obras ditas milagrosas não passam de uma maquiagem no cenário urbano, se a cidade não está apenas indo para o banheiro para retocar o pó no rosto. Em 2014, durante um mês, o país inteiro vai respirar futebol, e se esquecerá completamente que ainda temos graves desigualdades sociais, uma educação deficitária, problemas na preservação do meio ambiente, na saúde, na segurança pública e na cultura.
Essas obras prometidas para a Copa do Mundo trarão melhorias profundas na qualidade de vida da população? Ou são mesmo só para impressionar os turistas e os gringos? São investimentos no futuro ou serão dívidas difíceis para quitar no médio e longo prazo? Essas são perguntas que ficam a respeito da finalidade dessas obras, se a cidade deve ser arrumada por uma rápida faxina para eventos internacionais ou cuidada todo dia por e para quem nela habita. O Brasil já foi sede em 1950 de um torneio internacional de futebol e nem por isso resolveu todos os males socioeconômicos. Lembremos disso neste ano de eleições e em 2014 principalmente.
Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador
Texto e fotos: Marco Leonel Fukuda
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