quinta-feira, 18 de julho de 2013

Pedalar a passeio ou como ato político


Concentração do grupo de passeio ciclístico Ciclo Adventure na
Praça Martins Dourado, no bairro Cocó, em Fortaleza.
Foto: Marco Leonel Fukuda

Os passeios ciclísticos crescem em Fortaleza com grupos de pessoas que se reúnem para o lazer e o esporte, ou em iniciativas para promover a bicicleta como alternativa de mobilidade urbana.

A ideia de reunir um grupo para pedalar em passeios noturnos nas grandes cidades brasileiras surgiu em 1989, quando a fotógrafa e cicloativista Renata Falzoni fundou o Night Biker’s Club, grupo de ciclistas que desde 1993 realiza roteiros de bicicleta nas noites de terça-feira em São Paulo. Além de difundir a prática do ciclismo como esporte, em particular da modalidade do Mountain Bike, os passeios tinham por objetivo promover a bicicleta como meio de transporte, com orientações de medidas de segurança para os ciclistas e de educação no trânsito.


O costume rapidamente chegou a Fortaleza, e um dos passeios ciclísticos noturnos mais antigos da cidade é organizado desde 1998 pela loja Sport & Bike, no bairro Varjota, todas as segundas e quartas a partir de 20h30. A empresária de moda Rosana de Carvalho, 49, frequenta esse passeio há mais de três anos e levou pela primeira vez a filha Gabriela, 18, universitária, para participar da atividade. Rosana vai de carro trazendo a própria bicicleta de casa; ela gosta de pedalar nos passeios por conta do exercício físico e das amizades que faz no grupo. Porém vê dificuldades de conforto e tempo para utilizar a bicicleta ao se locomover no dia a dia pela cidade. “Porque o trânsito é louco, a cidade é quente, e tenho medo de assalto”, justifica.


José Rogério de Farias, 56, empresário do setor de transporte, organiza todas as terças e quintas os passeios de bicicleta da sua loja Ciclo Adventure, que sai às oito horas da noite da praça Martins Dourado, no bairro Cocó. Seu Rogério começou a pedalar por recomendação médica e incentivo dos filhos. Incorporou a bicicleta no estilo de vida, melhorou de saúde e, a pedido dos clientes, passou a realizar os passeios ciclísticos também como uma estratégia de negócios. Ele aponta os batedores experientes orientando os trajetos e a retaguarda do carro de apoio para proteger o grupo como diferenciais de estrutura e segurança nos passeios viabilizados por algumas lojas de artigos de ciclismo. Para Rogério, “os passeios são como uma pequena manifestação, que tranca a rua e diminui o ritmo do trânsito. Além do lazer, o passeio é uma mostra para tentar sensibilizar os motoristas da maior mobilidade da bike em relação ao carro”, explica.

Na manhã do segundo domingo de cada mês, na Praça Luíza Távora, os voluntários 
da Escola Bike Anjo ensinam a andar de bicicleta e orientam quem quer pedalar no cotidiano.
Foto: Marco Leonel Fukuda

Mudando de marcha
Pedalar em outros horários e com finalidades distintas é um fenômeno que se observa nas ruas da capital cearense. O professor e guia de turismo Paulo Probo, 45, mobiliza passeios de bicicleta solidários para arrecadar donativos para instituições filantrópicas, além de coordenar os passeios ciclísticos do projeto “Viva o Centro”, de educação patrimonial e turismo cultural com roteiros pelo Centro Histórico de Fortaleza nas manhãs e tardes de domingo, com agendamento prévio para escolas e empresas. “A bicicleta favorece muito o contato mais íntimo com a cidade e os equipamentos, torna tudo mais prazeroso. Dinamiza o passeio na relação de cuidado das pessoas consigo, com o outro e a cidade”, afirma. Paulo é morador do Centro e pedala todos os dias até o trabalho na Aldeota. Duas vezes por semana, leva de bicicleta o filho João Gabriel, de dois anos, para a creche em um banco adaptado para a criança na garoupa, sem esquecer do capacete para ambos.


Joaquim Alencar, 50, contador e empresário, é praticante do triathlon de “endurance”, voltado para provas longas de resistência física. A bicicleta para Joaquim é incluída na rotina de treinos desse esporte, que iniciou com o auxílio de assessorias especializadas. Ele é categórico quando o assunto é segurança. “Pelo que observamos na rua, saímos equipados adequadamente para o ato de pedalar bicicleta e treinar. Os equipamentos são capacete, vestimenta auto-refletida, roupas mais finas e uma lanterna. O ciclista deve pedalar no sentido da via, obedecendo o fluxo”, conclui.


O cicloativismo, ou a militância em prol da bicicleta como meio de locomoção, é o que move a ação política do advogado Celso Sakuraba, 26. Ele integra o movimento Massa Crítica Fortaleza, grupo à frente de manifestos para reivindicar a construção de ciclovias e melhorias na mobilidade urbana. “A Massa Crítica não se vê como grupo de passeio ciclístico. Ela faz manifestação pedalando”, contrapõe. Celso mora no Dionísio Torres, trabalha na Aldeota, e usa a bicicleta diariamente em todos os percursos. O movimento com influências anárquicas, realiza bicicletadas sempre na última sexta-feira de cada mês, em trajetos espontâneos partindo às 19h da Praça da Gentilândia. Quem sempre teve vontade de aprender a andar de bicicleta e utilizá-la como transporte, pode participar dos encontros da Escola Bike Anjo, nas manhãs do segundo domingo de cada mês, na Praça da CEART, na Aldeota.


O grupo de Passeio Ciclístico Ciclo Adventure se reúne todas as segundas e quartas, para sair às 20h da Praça Martins Dourado, no Cocó. Na foto, o grupo retorna na Avenida Washington Soares sentido Aldeota.
Foto: Marco Leonel Fukuda


Vida de Repórter
Tive a experiência de acompanhar um passeio ciclístico da Ciclo Adventure numa noite de quinta. Tirei a bicicleta guardada da garagem e a empurrei com os pneus vazios até a praça. Consegui pedalar 10 km, um terço do trajeto de ida e volta, que saía da entrada da Cidade 2000 até o posto Maluaga, sentido Beach Park. Parei pelo cansaço e depois de ver um ciclista a dez metros caindo da bike e quebrando o pé. Esperamos a ambulância chegar, segui o passeio descansando na kombi e aproveitei para entrevistar o Seu Rogério, organizador do passeio. As entrevistas antes de pedalar me permitiram entrar no universo sob duas rodas, entender mais o linguajar dos ciclistas, e as divergências ideológicas entre os frequentadores dos passeios noturnos e os integrantes dos movimentos cicloativistas, para enriquecer a matéria.

O grupo de passeio ciclístico Sport &Bike na concentração antes da
partida na rua Ana Bilhar, no bairro Varjota.
Foto: Marco Leonel Fukuda



Serviço

Passeio ciclístico Sport & Bike (24-30km) - 2ª e 4ª - 20h30 - Rua Ana Bilhar, 1680, 

Varjota                             (85) 3267-7452 / 8618-9045

Aluguel de bicicleta, capacete e carro de apoio: R$20. Quem já tem bicicleta, paga R$2 para ter direito ao carro de apoio.


Passeio ciclístico Ciclo Adventure (24-30km) - 3ª e 5ª - 20h - Praça Martins Dourado, 

Cocó                             (85) 3249-3636 / 9659-3926


Aluguel de bicicleta, capacete e carro de apoio: R$20. Carro de apoio: R$2

Federação de Triathlon do Estado do Ceará (Fetriece) (85) 3253.0321 - www.fetriece.com.br 


Viva o Centro! (9-11km) - domingos 9h ou 16h - (85) 8688-1344


Bicicletada Massa Crítica (10-12km) - última sexta de cada mês, às 19h, na Praça da 

Gentilândia.        www2.fortalezacritica.org

Escola Bike Anjo - segundo domingo de cada mês, de 8h às 12h, na Praça Luiza Távora (CEART), Aldeota            www.bikeanjo.com.br




Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador

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