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Concentração do grupo de passeio ciclístico Ciclo Adventure na
Praça Martins Dourado, no bairro Cocó, em Fortaleza.
Foto: Marco Leonel Fukuda |
Os passeios ciclísticos crescem em Fortaleza com grupos de pessoas que se reúnem para o lazer e o esporte, ou em iniciativas para promover a bicicleta como alternativa de mobilidade urbana.
A ideia de reunir um grupo para pedalar em passeios noturnos nas grandes cidades brasileiras surgiu em 1989, quando a fotógrafa e cicloativista Renata Falzoni fundou o Night Biker’s Club, grupo de ciclistas que desde 1993 realiza roteiros de bicicleta nas noites de terça-feira em São Paulo. Além de difundir a prática do ciclismo como esporte, em particular da modalidade do Mountain Bike, os passeios tinham por objetivo promover a bicicleta como meio de transporte, com orientações de medidas de segurança para os ciclistas e de educação no trânsito.
O costume rapidamente chegou a Fortaleza, e um dos passeios ciclísticos noturnos mais antigos da cidade é organizado desde 1998 pela loja Sport & Bike, no bairro Varjota, todas as segundas e quartas a partir de 20h30. A empresária de moda Rosana de Carvalho, 49, frequenta esse passeio há mais de três anos e levou pela primeira vez a filha Gabriela, 18, universitária, para participar da atividade. Rosana vai de carro trazendo a própria bicicleta de casa; ela gosta de pedalar nos passeios por conta do exercício físico e das amizades que faz no grupo. Porém vê dificuldades de conforto e tempo para utilizar a bicicleta ao se locomover no dia a dia pela cidade. “Porque o trânsito é louco, a cidade é quente, e tenho medo de assalto”, justifica.
José Rogério de Farias, 56, empresário do setor de transporte, organiza todas as terças e quintas os passeios de bicicleta da sua loja Ciclo Adventure, que sai às oito horas da noite da praça Martins Dourado, no bairro Cocó. Seu Rogério começou a pedalar por recomendação médica e incentivo dos filhos. Incorporou a bicicleta no estilo de vida, melhorou de saúde e, a pedido dos clientes, passou a realizar os passeios ciclísticos também como uma estratégia de negócios. Ele aponta os batedores experientes orientando os trajetos e a retaguarda do carro de apoio para proteger o grupo como diferenciais de estrutura e segurança nos passeios viabilizados por algumas lojas de artigos de ciclismo. Para Rogério, “os passeios são como uma pequena manifestação, que tranca a rua e diminui o ritmo do trânsito. Além do lazer, o passeio é uma mostra para tentar sensibilizar os motoristas da maior mobilidade da bike em relação ao carro”, explica.
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Na manhã do segundo domingo de cada mês, na Praça Luíza Távora, os voluntários
da Escola Bike Anjo ensinam a andar de bicicleta e orientam quem quer pedalar no cotidiano. Foto: Marco Leonel Fukuda |
Mudando de marcha
Pedalar em outros horários e com finalidades distintas é um fenômeno que se observa nas ruas da capital cearense. O professor e guia de turismo Paulo Probo, 45, mobiliza passeios de bicicleta solidários para arrecadar donativos para instituições filantrópicas, além de coordenar os passeios ciclísticos do projeto “Viva o Centro”, de educação patrimonial e turismo cultural com roteiros pelo Centro Histórico de Fortaleza nas manhãs e tardes de domingo, com agendamento prévio para escolas e empresas. “A bicicleta favorece muito o contato mais íntimo com a cidade e os equipamentos, torna tudo mais prazeroso. Dinamiza o passeio na relação de cuidado das pessoas consigo, com o outro e a cidade”, afirma. Paulo é morador do Centro e pedala todos os dias até o trabalho na Aldeota. Duas vezes por semana, leva de bicicleta o filho João Gabriel, de dois anos, para a creche em um banco adaptado para a criança na garoupa, sem esquecer do capacete para ambos.
Joaquim Alencar, 50, contador e empresário, é praticante do triathlon de “endurance”, voltado para provas longas de resistência física. A bicicleta para Joaquim é incluída na rotina de treinos desse esporte, que iniciou com o auxílio de assessorias especializadas. Ele é categórico quando o assunto é segurança. “Pelo que observamos na rua, saímos equipados adequadamente para o ato de pedalar bicicleta e treinar. Os equipamentos são capacete, vestimenta auto-refletida, roupas mais finas e uma lanterna. O ciclista deve pedalar no sentido da via, obedecendo o fluxo”, conclui.
O cicloativismo, ou a militância em prol da bicicleta como meio de locomoção, é o que move a ação política do advogado Celso Sakuraba, 26. Ele integra o movimento Massa Crítica Fortaleza, grupo à frente de manifestos para reivindicar a construção de ciclovias e melhorias na mobilidade urbana. “A Massa Crítica não se vê como grupo de passeio ciclístico. Ela faz manifestação pedalando”, contrapõe. Celso mora no Dionísio Torres, trabalha na Aldeota, e usa a bicicleta diariamente em todos os percursos. O movimento com influências anárquicas, realiza bicicletadas sempre na última sexta-feira de cada mês, em trajetos espontâneos partindo às 19h da Praça da Gentilândia. Quem sempre teve vontade de aprender a andar de bicicleta e utilizá-la como transporte, pode participar dos encontros da Escola Bike Anjo, nas manhãs do segundo domingo de cada mês, na Praça da CEART, na Aldeota.
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O grupo de Passeio Ciclístico Ciclo Adventure se reúne todas as segundas e quartas, para sair às 20h da Praça Martins Dourado, no Cocó. Na foto, o grupo retorna na Avenida Washington Soares sentido Aldeota. Foto: Marco Leonel Fukuda |
Vida
de Repórter
Tive
a experiência de acompanhar um passeio ciclístico da Ciclo
Adventure numa noite de quinta. Tirei a bicicleta guardada da garagem
e a empurrei com os pneus vazios até a praça. Consegui pedalar 10
km, um terço do trajeto de ida e volta, que saía da entrada da
Cidade 2000 até o posto Maluaga, sentido Beach Park. Parei pelo
cansaço e depois de ver um ciclista a dez metros caindo da bike e
quebrando o pé. Esperamos a ambulância chegar, segui o passeio
descansando na kombi e aproveitei para entrevistar o Seu Rogério,
organizador do passeio. As entrevistas antes de pedalar me permitiram
entrar no universo sob duas rodas, entender mais o linguajar dos
ciclistas, e as divergências ideológicas entre os frequentadores
dos passeios noturnos e os integrantes dos movimentos cicloativistas,
para enriquecer a matéria.
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O grupo de passeio ciclístico Sport &Bike na concentração antes da
partida na rua Ana Bilhar, no bairro Varjota.
Foto: Marco Leonel Fukuda |
Serviço
Passeio ciclístico Sport & Bike (24-30km) - 2ª e 4ª - 20h30 - Rua Ana Bilhar, 1680,
Varjota (85) 3267-7452 / 8618-9045
Aluguel de bicicleta, capacete e carro de apoio: R$20. Quem já tem bicicleta, paga R$2 para ter direito ao carro de apoio.
Passeio ciclístico Ciclo Adventure (24-30km) - 3ª e 5ª - 20h - Praça Martins Dourado,
Cocó (85) 3249-3636 / 9659-3926
Aluguel de bicicleta, capacete e carro de apoio: R$20. Carro de apoio: R$2
Federação de Triathlon do Estado do Ceará (Fetriece) - (85) 3253.0321 - www.fetriece.com.br
Escola Bike Anjo - segundo domingo de cada mês, de 8h às 12h, na Praça Luiza Távora (CEART), Aldeota www.bikeanjo.com.br
Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador