A Exposição Movimento Musical Manguebeat, realizada em janeiro de 2010 no Centro Cultural Banco do Nordeste em Fortaleza/CE, por ocasião do IV Rock Cordel, recebe agora uma apreciação crítica do blog Cultura Ciliar.
A proposta da exposição era muito interessante: levar ao conhecimento do público informações acerca do Manguebeat, movimento musical da década de 1990 em Pernambuco, quando o trabalho de grupos de músicos como Chico Science e Nação Zumbi, Mestre Ambrósio, Mundo Livre S/A, entre outros, permitiu uma descentralização regional na produção da cultura brasileira. A produção cultural no Brasil, que antes era restrita ao eixo Rio-São Paulo, tornou-se polinucleada, diversificada regionalmente. Isso permitiu que os artistas permanecessem em suas terras natais e ampliassem suas perspectivas de trabalho, não sendo o êxodo intelectual para Rio-São Paulo mais obrigatório a todos os casos.
Escolheu-se o nome Manguebeat, pois o mangue é um ecossistema de grande biodiversidade, berçário de várias espécies, um rico ambiente de exuberante vida, abrigo de muitos seres vivos da fauna e da flora. Esse movimento cultural buscava resgatar os ideais antropofágicos do Tropicalismo dos anos 1960, contextualizando com a produção cultural do final do século XX, inovando sobremaneira a cena musical daquele tempo. Os artistas do Manguebeat pretendiam fundir elementos da tradicional música popular brasileira e nordestina como samba, frevo, coco, baião, ciranda, maracatu com reggae, rap, rock, pop. Os gêneros de música internacional contemporânea mesclados com gêneros genuinamente brasileiros, no propósito de "modernizar o passado" ou então "contemporanizar a tradição" (MIRANDA, 2009, p.177). Instrumentos tradicionais e acústicos como zabumba, sanfona, viola caipira e rabeca passaram a coexistir com guitarras elétricas e demais instrumentos eletrônicos.
Apesar de toda essa fundamentação histórica e teórica que o Manguebeat traz, a exposição no Centro Cultural do Banco do Nordeste (CCBNB) não foi feliz em muitos aspectos. Depois de ter passado um mês em Fortaleza, a exposição já foi levada pelo Itaú Cultural para São Paulo. Espremida no terceiro andar do CCBNB, a exposição Movimento Musical Manguebeat entrava no caminho de quem se dirigia à biblioteca do CCBNB. Havia alguns painéis nas paredes com fotos, cartazes, três mesas de vidro com capas de LP's, discos e fitas K-7, um acervo relevante daquela época de efervescência cultural, mas tudo com pouquíssimas referências, sem organização cronológica ou temática, simplesmente solto no espaço. Quem não tivesse prévio acesso a informações sobre o Manguebeat, ficava perdido e desinteressado. Faltou mais capricho no trabalho de curadoria da exposição, que apenas colocou um único cartaz com texto perto do filtro de água. Quem foi para lá convidado pela divulgação de respeitados meios de comunicação da capital cearense voltou para casa seriamente decepcionado.
Por: Marco Leonel Fukuda
Pesquisa bibliográfica: MIRANDA, Dilmar. Nós a música popular brasileira. Expressão Gráfica: Fortaleza, 2009.
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