terça-feira, 9 de março de 2010

UM SONHO DENTRO DE UM SONHO...

Nesta semana será realizado em alguns pontos aqui do Brasil provas para o EICTV - Escola internacional de Cinema e televisão em Cuba, uma das melhores escolas de cinema do mundo. Fundad por Gabriel Garcia Marques, esta escola representa muito para uma pessoa, eis que eu terei o privilégio de estar fazendo uma prova tão significativa e altamente difícil. Eis abaixo minha justificativa do porque quero faer esta prova e acreditar que tudo é possível.
se queres informações sobre este concurso, entre no site www.pagina21.com.br que você terá as informações necessárias.



O cinema como arte, com indústria acarretou em minha humilde vontade desde minha pré-juventude, a vontade de fazer cinema. Após assistir alguns filmes dos maiores movimentos cinematográficos, estilizados e diferentes do que conhecia como cinema, certo de que conhecer cinema aos 13 anos não era bem conhecer para despertar um sonho de gerar uma máquina ambiciosa e fantástica que é o cinema, e sim, acreditar que seria possível dominar uma linguagem tão vasta e complexa da arte, imprimindo com sons, textos, imagens, fotogenias em um só momento.
O obstáculo maior é a insegurança e o lado financeiro. Para muitos, isso é realmente substancial, um detalhe, com todo o estudo digerido ao longo dos anos, fazer uma prova e não saber se cinema é sua vida, me faz pensar: “Como descobrir se é isso mesmo?”. Poucas pessoas se importam, mas não estou aqui para falar dos outros, do que eles pensam sobre suas instruções na área ou o que devem fazer. Sei que há algo dentro de mim descoberto há poucos anos que cinema é a coisa mais importante profissionalmente (ou porque não, em parâmetros de aprendizado de vida) que devo alcançar aqui na Terra.
Um grande professor onde me espelho até hoje, que me ensinou a não desistir do que quero, observando linguagens maravilhosas de autores espetaculares nesses poucos anos de vida que obtive de conhecimento artístico até o contemporâneo...(completar) disse-me certo dia que a dificuldade de trabalhar com cinema é que muitos desistem pelas dificuldades e incertezas de retorno financeiro que esta profissão oferece, mas que o retorno é insignificante em comparação com esta arte tão espetacular, singular e respeitosa que influencia gerações, respeito e ações mundiais (como no caso de David W. Griffith que com seu filme Nascimento de uma Nação obteve repercussão por sua descrição racista e ao mesmo tempo de técnica e narrativa revolucionária para um cinema que estava engatinhando como popular e absoluto como arte).

Aos 15 anos quase todo meu tempo livre era dedicado ao cinema, filmes de todos os formatos sejam eles em vídeo, amadores, profissionais, experimentais ou animações. Mas sentia um vazio, muito o qual não sabia onde estava e o que poderia aprender de cinema que estaria ao meu alcance? Por vontade própria, estudei com que tinha. As ferramentas de 10 anos atrás não são as mesmas de hoje, mas incorporando a vontade, lendo jornais e revistas especializadas no assunto, até descobrir os principais movimentos e escolas que refletem no audiovisual até hoje.

Vi nos soviéticos, italianos e franceses algo irrevogável, lúdico de que existiam escolas e movimentos os quais queria aprender e conhecer para assim, descobrir se é isto que quero fazer para o resto de minha vida.
Através de cursos como na Casa Amarela Eusélio Ribeiro em Fortaleza – Ceará que fiz em 2009 aprendi a ver com outros olhos, a dinâmica das imagens, e o pretexto artístico que a URSS despachou para o mundo, atribuindo o cinema como a arte da montagem. Fascínio que não diminuiria ao ver Rosselini em seu apogeu cinematográfico, ou Antonioni na mais pura maestria da arte do movimento fotográfico, que exprimia uma realidade cruel e distante no que diz respeito na formação de um espetáculo de repercussão mundial e de entretenimento gigantesco para com as pessoas, que esbugalhavam os olhos de forma torta, vendo a realidade que eles não queriam ver. A estética da fome em uma tela enorme, mexendo com o âmago mais profano do ser humano. Voltava para casa com me perguntando, se era isso que queria estudar para um sempre, aprender os meandros históricos da cinematografia em todo o mundo, e usa-lo para criar a mágica que tanto cultivava. Chegando a sala de aula, deparei-me com uma explicação formidável do Professor Firmino Holanda sobre Jean Luc-Godard, que mudou a forma de pensar e tudo que eu achava correto desde então no cinema. Com o Nouvelle Vague, algo me dizia que aquilo era pra ser preenchido como aprendizado de vida, e que poderia crescer profissionalmente pensando que seria um erro se não estivesse corrido atrás de fazer este “maldito” sonho de trabalhar com cinema. Até mesmo Forrest Gump de Robert Zemecks me trazia à tona a vontade que tinhas de fazer audiovisual e trabalhar com isso. Com o Professor Joe Pimentel, aprendi diversas técnicas de enquadramento, posicionamento em Set de filmagem, de câmeras, iluminação de forma clara, precisa e que muitos leigos entenderiam sem nenhum problema. Até mesmo aula de publicidade aconteceu, diante da realidade, da dificuldade que o cinema nos trás, isso foi abordado, dando clareza ao assunto mais delicado para qualquer profissional: A sua rentabilidade financeira.
Marcus Moura, grande cineasta cearense, de repercussões internacionais e ex-aluno da EICTV nos ofereceu aulas de roteiro, apaixonando-me pela escrita, a técnica de elaboração, sua precisão e conselhos que ecoam na mente sem gritar para o desenvolvimento da estória. Seus causos e histórias de vida que a fez levar para sua verdadeira paixão, mostrando o cinema cubano jamais visto por minha retina, esmiuçado pela competência de um mestre onde foi daí que percebi que a linguagem audiovisual é minha verdadeira paixão a qual quero seguir por muito tempo.

Sabe aquele momento que você diz pra você mesmo que é isso que tem que buscar, agarrar e não soltar até perceber que foi conquistado? A minha justificativa é que encontrei minha motivação, meu desejo de fazer arte através do cinema, trabalhar com pessoas de pensamentos diferentes, conhecimentos muito específicos, de acreditar numa idéia, e a única arte confiante e de grande entusiasmo que aprendi nessa juventude transviada pela tecnologia, pelo mundo globalizado, que acrescenta dispositivos para conhecer e preencher sem limitações o meu domínio pela sétima arte.

“Cinema? Como se estuda algo assim? Onde se tem isso?” Frases que escuto até hoje nunca me fraquejaram, nunca me deram medo. Deram-me pensamentos, confinamentos para saber se valeriam à pena correr atrás de algo tão distante, tão absurda de se sonhar, aparentemente. Descobri no ano passado que este mecanismo, esta junção das artes em um copião cheio de idéias, transformando em uma projeção que pode mudar seu modo de pensar, agir, influenciar com poder, dinamismo, crer que toda aquela mentira exposta, pode ser de um simples escapismo a centralização do comportamento, que pode ensinar culturas tão distantes e ímpares, efetuando uma conexão que a televisão pegou emprestada e o fez espalhar-se em todas as outras mídias, no entanto, isso seria inevitável, que é a Globalização.
O que profissionalmente posso tirar com cinema aqui no Brasil? Não me importo com isso agora. Sério, Se eu estou correndo com tesouras atrás de um sonho, nenhum salário tirará meu sono novamente a respeito de um emprego sem horários, sem salários fixos ou nada de apoios privados ou governamentais.

Acreditar na difícil tarefa de que uma escola pode lhe dar gratificações não só profissionais, podendo abrir leques absurdamente espaciais para um livre conhecimento artístico, que é difícil não situar como sonho, esta loucura de sair do seu país atrás de um lugar ao sol, de uma questão pessoal, atraído pela dificuldade, seja ela financeira; sentimental ou até mesmo física, de agir na busca do “acreditar”, até chegar lá no que der e vier.

Cuba sempre foi algo distante, sem chances para um garoto sonhador. Mas acredito agora em uma preparação completa para encarar tal desprendimento com o mundo e respirar cinema conforme a música, ou melhor, conforme todos os sons disponíveis no universo.
Não irei admitir erros grosseiros, aprender com os colegas de sala de aula é talvez o principal combustível para está crente em um dos maiores cursos de cinema que o mundo pode oferecer.

Quando tive meu primeiro aprendizado em roteiro cinematográfico, percebi que eu poderia me dar bem escrevendo filmes, criando diálogos, a fazer a “receita de bolo” com ingredientes saudáveis e podendo colocar elementos com quebra de linearidade. Ser um embrião de uma produção audiovisual é o máximo. A fotografia, outra parte de maestria, que é apaixonante, foi à coisa mais saborosa que vi acontecer. Talvez a disciplina o qual seja a mais importante num Set de filmagem depois do diretor. Aprender sobre fotografia é uma obrigação que quero desenvolver em Cuba, mesmo escolhendo a especialização em Roteiro, quero aprender o máximo possível a arte de fotografar de forma cuidadosa, iluminação e justificar o porquê não me arrependerei de fazer cinema.
Estudar cinema não é mera cobiça, ou que isso vá me trazer benevolência, e sim me transpor a um trabalho que serei coibido em fazer. Sentir completo como pessoa, trabalhar com que aparentemente acredito ser algo não tão palpável, como algo onírico e com todo discernimento de que o audiovisual é espetacular. Sugar este equilíbrio é ter a certeza que o dinheiro investido, a distância das pessoas que amo e de experimentar uma cultura totalmente desconhecida, fincar os pés em um país com outra realidade, acreditando somente no potencial, me faz crer que isso não é mais um sonho, é a coisa mais importante que irei fazer na minha vida.
Escrito Por Demetrius Silva

segunda-feira, 1 de março de 2010

Por gentileza, Fortaleza - por Izabel Gurgel

"Gentileza gera gentileza

Na praia, quero ouvir o barulho do mar. No teatro, só o espetáculo. No cinema, o filme. Na sala de aula, a aula. Em casa, sons que não incomodem a vizinhança. Na praça, o buchicho das conversas. Nas igrejas, rezar baixinho: os deuses não são surdos. Deixar profissionais e pacientes atravessarem uma dura noite em hospital sem som de carro. No Passeio Público e no jardim do TJA, quero ouvir passarinhos. Vivo em Fortaleza. Quero viver em outra cidade: Fortaleza sem as parafernálias de som em automóvel.

Quero mais: calçadas livres, ruas limpas, iluminadas, transporte público decente.
Um dia tocado por “Bom dia” ao desconhecido que passa, movido a “Por gentileza”, “Com licença”, “Por favor” e “Muito agradecida”. Ainda que não saibamos, estamos exauridos pela grosseria cotidiana que não cessa de prosperar em Fortaleza.

Do ônibus ou da hilux, por gentileza, não jogue lixo na rua.
Não encontrar lixeira não é desculpa: leve um saquinho na bolsa.

Respeite o ciclista: para 7% da população, a bicicleta é o único meio de transporte.

Lembre-se: a vaga para deficiente é para portadores de deficiência...

A fila é para todos, todos temos pressa – ainda que não saibamos como inventamos uma vida assim. E não precisamos de lei para dar passagem aos velhos, às pessoas com crianças, com dificuldade de locomoção, às mulheres grávidas: é só se colocar no lugar do outro. Miúda, eu já sabia que ceder o lugar aos mais velhos, por exemplo, era uma regra que valia o tempo todo no ônibus, na fila...

Por gentileza, não buzine: se estou parada é porque engarrafamos a vida. É cada vez mais difícil o ir-e-vir mais banal. Vai para a balada, ao Centro ou ao estádio? Divida um táxi ou uma van com os amigos. Deixe o carro em casa. Nenhuma grande cidade do mundo, com uma rua que sabe viver, está baseada no automóvel particular. Precisamos mais de transporte público e sistema de ciclovias do que de estacionamento.

Se usa moto, use também capacete e, assim, em caso de acidente, não vai ocupar a equipe do IJF, que já tem um serviço imenso para ser feito. Faixa de pedestre tem função: é para dar passagem a quem anda a pé, qualificando o trânsito. Sim, somos milhares de pedestres na cidade.

Sobretudo, ao deitar e ao acordar, lembre-se: não existe só você no mundo.

Não grite; não chame o garçom ou a vendedora com um “Ei!”; saiba que muitas vezes seu celular pode ficar desligado e o mundo continuará girando.

Quero viver em Fortaleza assim: nos 365 dias do ano, com a civilidade dos dias extraordinários. Ainda ressoa o relato da amiga moradora da Santos Dumont que desceu a João Cordeiro a pé para o réveillon na praia, à vontade na rua, sem pânico em relação ao outro: sim, porque o medo incorporado é acionado a cada encontro com quem quer que seja. Paranóia urbana que (talvez) temos um certo prazer de cultivar, assim uma espécie de distinção social. Claro que construímos cidades assustadoras. Mas com mais de 350 mil pessoas passando pelo Centro diariamente, por exemplo, não dá para acreditar que se realiza 100% a equação: ir ao Centro + andar a pé = assalto.

É um alento saber do casal amigo que voltou do réveillon fazendo o caminho contrário, subiu a Antônio Augusto, pegou um ônibus na mesma Santos Dumont às duas da manhã e foi para casa, prática comum para quem mora em uma cidade que sabe viver.

Quero sim a civilidade da Domingos Olímpio no carnaval. Senhoras levando cadeiras de casa para ver o desfile, crianças brincando, muitos mundos partilhando um mesmo espaço. Como no pré-carnaval no Jardim das Oliveiras, reunindo o time de futebol e o bloco do bairro com a Escola de Samba Império Ideal: não lhe conheço, não sei quem você é, talvez não nos encontremos nunca mais, mas vivemos juntos e precisamos, você e eu, cuidar de nós mesmos e cuidar da cidade. Sem precisar dizer de quem sou filha, com quem você está falando ou a função que ocupo, sempre provisoriamente. Aliás, outro dado elementar na vida nosso de todo dia: é tudo provisório. Então, deixa passar.

O que muda na cidade em tempo de réveillon, pré-carnaval ou carnaval, que nos faz usar, ainda timidamente, talvez, a máscara do convívio gentil? Sim, a gentileza é um artifício, algo que se aprende, algo que se constrói. Se somos fabricadores e usuários de tantas máscaras, vamos fazer prosperar em Fortaleza a gentileza. Falo por interesse próprio: quero viver bem na cidade.

Cuidar da vida (na cidade/da cidade) é uma tarefa cotidiana, coletiva e sempre renovada. Agora está na nossa mão, por exemplo, desligar a violência do som automotivo. O paredão de som é pago. O silêncio é gratuito. Tem gente fazendo negócio com o nosso silêncio. E criando um lastro de brutalidade, uma espécie de ‘naturalização’ da estupidez de alguns diante do assombro e do incômodo de tantos. Nunca quis isso. Agora, por gentileza, não fico calada.

E pra não dizer que não falei das flores, não arranque flores dos jardins. Melhor do que nós, humanos, elas lidam bem com a morte e sabem a hora de murchar, cair, fenescer. A gente passa, olha, sente o cheiro e segue. Outros passam, olham, sentem o cheiro e seguem...

Se você é fumante como eu, não jogue a cinza nos canteiros. As árvores não fumam. Se por acaso a gente se encontrar e eu estiver pisando na bola (falando alto, tentando escapar da fila, comendo ou bebendo em uma sala de espetáculo etc.), fale comigo mansamente e com firmeza. É como na música: o seu olhar melhora o meu.

Viver com o outro é nosso aprendizado diário. Eu quero aprender!

Desligue o paredão de som, por delicadeza. Fortaleza agradece."

Izabel Gurgel é jornalista e atualmente diretora do Theatro José de Alencar em Fortaleza, Ceará.

O blog Cultura Ciliar pediu permissão à autora deste artigo para publicá-lo na íntegra.