O Theatro José de Alencar foi palco da palestra "Como cultivar atitudes pacíficas no cotidiano" da Monja Coen Sensei na noite do domingo passado (12). A visita da líder espiritual do zen budismo no Brasil a Fortaleza se deu a convite do TJA, por meio do projeto Divinas Palavras, que, desde maio deste ano, coloca em cena líderes de diversas religiões para falar sobre cultura de paz e assim estimular o diálogo e a tolerância com as múltiplas tendências de pensamento e de práticas religiosas.
A fala da monja começou com uma interessante e apropriada analogia com as máscaras teatrais, a tragédia e a comédia, o pranto e o riso, que representam todo um gradiente dos sentimentos humanos. Para ela, é totalmente normal que oscilemos entre os extremos das emoções, que sintamos ora amor ou ódio, inveja ou admiração, desde que na vida busquemos o caminho do meio, do equilíbrio, da temperança, um dos princípios fundamentais do zen budismo.
Os espectadores se encantaram com o falar pausado e sereno da religiosa, que soube desenvolver uma linha densa de raciocínio acerca dos problemas existenciais do ser humano entremeada de anedotas ilustrativas de situações cotidianas cômicas. A identificação e a resposta de empatia do público foi imediata e espontânea com a mansidão, a oratória e a didática da palestrante, que antes de se ordenar como monja budista, já exerceu atividade como jornalista do Jornal da Tarde em São Paulo durante a juventude.
Outro momento marcante da palestra foi quando a monja trouxe uma abordagem etimológica para a palavra corrupção, uma reflexão histórica sempre pertinente e atual para a sociedade brasileira. Corrupção pode ser compreendida como "cor" - coração e "rupção" - rompimento, como coração rompido, perda da integridade, do sentido holístico da vida humana, e que não existe exclusivamente na política, mas também em outros setores do cotidiano.
A edição de agosto do projeto Divinas Palavras terminou com sábios conselhos da Monja Coen para focarmos a vida no tempo presente, no aqui e agora (a essência da meditação), e de cultivarmos a cultura de paz no nosso dia a dia por meio de ações de cuidado e de amor. Ela apontou que é necessário que procuremos ser agradáveis e afetuosos para com os outros, para assim manter saudáveis os nossos relacionamentos. Foi assim que quem teve a oportunidade e o privilégio de ouvir a palestra iluminada da Monja Coen pôde encerrar com chave de ouro o domingo com palavras inspiradoras para levar para a vida e para a semana seguinte, na rotina que retornaria como de costume na próxima segunda-feira.
Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador
Foto: Marco Leonel Fukuda