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Foto: Davi Pinheiro |
Alegria foi para mim participar da Feira da Palavra 2013 em Cabo
Verde e conhecer esse país do qual antes eu só ouvira falar, que
era o portal africano pelo Atlântico, ou o meio do caminho até a
Europa daqueles que partem da América do sul. Arquipélago de dez
ilhas, a cultura e as belezas naturais também foram assuntos de
breves conversas nos corredores da Universidade Federal do Ceará,
para a qual muitos cabo-verdianos têm ido estudar, aprender
profissões para então regressar e ajudar a terra natal. Belo
sentimento e propósito que eu não poderia deixar de admirar na
minha primeira visita.
Surpreso fiquei de poder pegar um voo direto a partir de Fortaleza,
e apenas três horas e meia depois desembarcar na capital Praia, a
mesma distância de um avião até São Paulo. No assento da TACV, a
matéria de capa da revista Fragata mostrou que ainda mais comum era
o caminho inverso do que eu fazia, não só pelos estudantes
intercambistas, mas pelas “rabidantes”, ou sacoleiras como
diríamos aqui, que revendiam no país produtos e tendências
adquiridos no Brasil, importando até o hábito de assistir às
telenovelas. Com uma comitiva de artistas cearenses, desembarcamos no
Aeroporto Internacional Nelson Mandela no dia 4 de dezembro,
exatamente um dia antes do falecimento do estadista sul-africano.
Obtivemos um visto de cortesia do Ministério da Cultura de Cabo
Verde; recebemos a triste notícia durante um saboroso jantar de
espetada de atum fresco e percebemos na atmosfera e no semblantes das
pessoas a emoção pela passagem de Madiba aos 95 anos, e do que sua
vida e atividade política representam para a África e para o mundo.
Como músico e comunicador, eu me senti honrado em representar a
cultura do Brasil nesse evento, do qual participei com uma atuação
musical na Praça Alexandre Albuquerque, no Plateau, emoldurado por
um gigantesco cartaz com o rosto de Mandela. Apresentei um repertório
com o violão de seis e a viola de dez cordas, instrumentos vindos da
herança que brasileiros e cabo-verdianos compartilham do colonizador
português. Trazia na bagagem um concerto de música instrumental,
sem palavras, mas que muito diz, pois sabemos a força da música e
de como ela pode ser ponte entre as nações. De como o balanço do
chorinho pode estar na coladeira, a saudade nostálgica está tanto
na morna como no samba-canção. Fui aplaudido pelo arranjo de
“Sodade” que fiz no violão, pois muitos de nós deste lado do
mar também apreciamos a voz de Cesaria Évora.
As semelhanças entre nossos povos pude confirmar no sorriso aberto
e hospitaleiro, na visita ao Museu Etnográfico Nacional após uma
agradável caminhada pelo calçamento da Pedonal, rua exclusiva para
pedestres no centro da cidade, e um tour que fizemos à Ribeira
Grande de Santiago, a Cidade Velha, entreposto dos lusitanos.
Curioso: à medida que abri mente e espírito para conhecer Cabo
Verde, mais eu descobri sobre o meu próprio país. Que outros
brasileiros possam ter a oportunidade que tive para viajar até a
África, continente onde está muito da nossa origem cultural.
Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador
Cabo Verde - Praia
Cabo Verde - Ilha de Santiago e Tarrafal
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